Estudo comparativo dos efeitos da fisioterapia aquática em relação à fisioterapia em solo na qualidade de vida dos pacientes com Artrite Reumatóide


Estudo comparativo dos efeitos da fisioterapia aquática em relação à fisioterapia em solo na qualidade de vida dos pacientes com Artrite Reumatóide

Revista FisioBrasil Ed. 79

Efects of the therapeutic pool in the patient’s quality of life with rheumatoid arthitis

Denise de Almeida*
Karin Alessandra Rodrigues Netto*
Rosângela Vinhas**

*Fisioterapeuta
** Fisioterapeuta
Professora e supervisora de estágio da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID

RESUMO

A artrite reumatóide (AR) é uma doença sistêmica auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite crônica, simétrica, erosiva, podendo levar a vários graus de destruição articular, com deformidades, redução da função e gasto energético aumentado. A fisioterapia aquática é a utilização da piscina com finalidade terapêutica. Esta prática fisioterapêutica de reabilitação subaquática ocupa-se de exercícios e de movimentos específicos e individuais para cada paciente, trabalhando a parte aeróbica, grandes grupos musculares e várias articulações ao mesmo tempo.

O objetivo do estudo foi verificar a eficiência da piscina terapêutica na qualidade de vida de 30 pacientes com artrite reumatóide, de ambos os sexos e com idades compreendidas entre 24 e 74 anos, com diagnóstico de AR, sendo que 15 realizam fisioterapia aquática e o restante apenas fisioterapia em solo.

O levantamento foi realizado em clínicas e universidades localizadas no bairro do Tatuapé, pertencente à Zona Leste da Grande São Paulo.

Foi utilizado como instrumento de avaliação um questionário, no qual constam perguntas sobre dados pessoais e qualidade de vida (SF36).

Aqueles indivíduos que realizam fisioterapia aquática responderam um questionário específico. Os resultados foram analisados quantitativamente e qualitativamente. Como resultados foram encontrados uma diminuição no tempo de rigidez matinal e um melhor aspecto emocional nos pacientes que realizam fisioterapia aquática comparados, com os resultados dos pacientes que realizam fisioterapia em solo. Através deste estudo foi concluído, que segundo os benefícios proporcionados pelo tratamento em piscina terapêutica que constam na literatura, seria necessário um maior número de pacientes com AR, para avaliar se existe uma diferença estatisticamente significativa, na qualidade de vida dos que realizam a fisioterapia aquática, e dos que realizaram apenas a fisioterapia em solo.

PALAVRAS-CHAVEArtrite reumatóide, fisioterapia aquática, qualidade de vida.

ABSTRACT

The rheumatoid arthritis (RA) is a self-immune systemic disease of unknown etiology, characterized by chronic symmetric erosive polyarthritis that may lead to many degrees of articular destruction, deformities, function reduction and increased energetic expense. The hydrotherapy is the use of the pool with therapeutic purpose. This physiotherapeutic practice of subaquatic rehabilitation deal with specific and individual exercises and movements for each patient, working the aerobics part, great muscles groups and many articulations at the same time. The aim of the study was to verify the efficiency of the therapeutic pool in the patient’s quality of life with rheumatoid arthritis, where were used 30 patients, both genders and with ages between 24 and 74 years, with RA diagnosis, whereas 15 carry out hydrotherapy and the rest do only physiotherapy on the ground. This survey was carried out in clinics and universities located in the district of Tatuapé belonging to the east zone of the great São Paulo. A questionnaire, which consists questions about personal data and quality of life (SF 36), was used as an evaluation instrument. Those individuals, who carried out hydrotherapy, answered a specific questionnaire. The results were analyzed quantitatively and qualitatively. In the results were found a decrease in the morning stiffness time and a better emotional aspect in patients who carry out hydrotherapy comparing with the patient’s results who carry out physiotherapy on the ground. Through this study was concluded that the benefits provided by the treatment in the therapeutic pool, which consist in the literature, would be necessary a higher number of patients with RA to evaluate if existed a difference statistically significant in the quality of life of those who carry out the hydrotherapy, compared with those who carry out only physiotherapy on the ground.

KEY WORDS: Rheumatoid arthritis, hydrotherapy, quality of life.

INTRODUÇÃO

ARTRITE REUMATÓIDE

A artrite reumatóide é uma doença inflamatória crônica, de etiologia desconhecida, com importante participação do sistema imunológico na perpetuação da inflamação, que tem como característica principal, uma sinovite que envolve, principalmente, as articulações periféricas, de forma simétrica e persistente, podendo causar deformidades e incapacitação. É caracterizada por poliatrite crônica, erosiva, podendo levar a vários graus de destruição articular, redução da função e gasto energético aumentado.

A etiologia apresenta conotação multifatorial, relacionando fatores comportamentais, ambientais (vírus, bactérias etc.); patrimônio genético (em especial HLA-DR4 ou DR1); desequilíbrio imunológico e alterações neuroendócrinas. Tem prevalência entre 0,5 e 1,0% na população adulta; porém, esse valor aumenta para 45%, considerando-se a população entre 55 e 75 anos de idade.

A AR ocorre em todas as raças e em todas as partes do mundo, não havendo diferença na prevalência quanto à latitude, longitude ou clima.

A sinovite pode ser caracterizada por uma fase de exsudação, uma fase de infiltração celular e pela formação de tecido de granulação.

Na fase de exsudação, a congestão e o edema são mais acentuados na superfície interna da membrana sinovial, particularmente, próximo às bordas de cartilagem articular, sendo a sua contrapartida, a formação de derrame no espaço articular. Os leucócitos polimorfonucleares são as células marcadoras da efusão reumatóide.

Na fase da infiltração celular, a celularidade dependerá da cronicidade das lesões, mas os linfócitos são as células predominantes (predomínio dos auxiliares em relação aos supressores podendo estimular, assim, os linfócitos B a secretarem imunoglobulinas em altíssima quantidade, como o observado na sinóvia reumatóide); ocorre também um aumento no número de células plasmáticas produtoras de imunoglobulina, macrófagos, células dendríticas, etc.

A formação de tecido de granulação é caracterizada por uma membrana sinovial hiperplasiada e hipertrofiada. Esse tecido recobre a cartilagem articular, osso subcondral (formação de pannus), podendo ocorrer uma substituição da cartilagem hialina, por um tecido conjuntivo fibroso denso, com sua penetração no osso subcondral, processo que é associado ou não à formação de anquilose. O tecido de granulação pode sofrer aderência e cicatrizar-se.

A artrite reumatóide evolui em crises de atividade e remissão, em padrões muito variáveis. Ela pode atingir qualquer articulação diartrodial, mas as mais atingidas, freqüentemente, são as pequenas articulações das mãos, punhos, joelhos e pés. O padrão é variável, mas usualmente é bilateral, simétrico e poliarticular. Ao longo do tempo, a artrite progride para cotovelos, joelhos, ombros, tornozelos, articulação subtalar e coluna cervical, especialmente a primeira e a segunda cervicais. Há hiperplasia e hipertrofia das células sinoviais, possuindo na sinovite aspecto de borracha.

As manifestações da doença podem ser intra-articulares e extra-articulares. As intra-articulares são em mãos e punhos, cotovelos, ombros, coxo-femorais, joelhos, pés e tornozelos, coluna cervical e têmporo-mandibular:

As manifestações extra-articulares ocorrem principalmente nos pacientes soro positivos e não costumam ter relação com a atividade da doença articular. As principais manifestações extra-articulares são as oculares, cardiológicas, pulmonares, neurológicas e hematológicas.

Não existem exames laboratoriais específicos para o diagnóstico da AR. Portanto, o diagnostico é estabelecido, de acordo com a avaliação clinica, laboratorial e radiográfica.

Os critérios para a Classificação da Artrite Reumatóide são:
1.       Rigidez matinal dentro e em torno das articulações, durando pelo menos uma hora até a recuperação máxima da mesma;
2.       Pelo menos três áreas articulares apresentarem, simultaneamente, edema de partes moles ou derrame (não apenas crescimento ósseo excessivo) observado pelo médico;
3.       Pelo menos uma área com edema em uma articulação do punho, metacarpofalangeanas ou nas interfalangeanas;
4.       Envolvimento simultâneo das mesmas áreas articulares em ambos os lados do corpo (é aceitável envolvimento bilateral de interfalangeanas proximais, metacarpofalangeanas ou metatarsofalangeanas sem simetria absoluta);
5.       Nódulos subcutâneos sobre proeminências ósseas, ou superfícies extensoras, ou regiões justa-articulares, observados por um médico;
6.      Demonstração de níveis anormais de fator reumatóide, através de qualquer método, pelo qual o resultado tenha sido positivo em menos de 5% dos indivíduos-controles normais;
7.      Alterações radiográficas características nas radiografias póstero-anteriores da mão e punho, que devem incluir erosões e descalcificações inequívocas localizadas e acentuadas nas articulações envolvidas (alterações da osteoartrite isoladamente não se enquadram) (POLLISON et al, 1999).

Os critérios revisados de 1991 do American College Rheumatology para a classificação do estado funcional na AR são:
a)       Classe I: Completamente capaz de realizar as atividades usuais da vida diária (cuidados pessoais, ocupacionais e não ocupacionais);
b)       Classe II: Capaz de realizar cuidados pessoais e atividades ocupacionais usuais, mas limitado nas atividades não-ocupacionais;
c)       Classe III: Capaz de realizar cuidados pessoais usuais, mas limitados nas atividades ocupacionais e não ocupacionais;
d)       Classe IV: Limitado para realizar cuidados pessoais, atividades ocupacionais e não ocupacionais.
·      Cuidados pessoais usuais incluem vestir-se, alimentar-se, tomar banho, arrumar-se e a toalete pessoal. As atividades não-ocupacionais (recreativas e/ ou lazer) e ocupacionais (trabalho, escola, cuidados com a casa) são de acordo com o desejo do paciente e específicos da idade e do sexo.

O melhor tratamento sempre envolve uma equipe multidisciplinar, com as seguintes orientações: diagnóstico precoce; avaliação regular e sistemática da doença; reabilitação; avaliação adequada do tratamento; uso de injeções intra-articulares de corticoesteróides (quando necessário); diminuição da incapacidade funcional; melhora geral da saúde do paciente e cirurgia para prevenir ou corrigir deformidades e lesões articulares.

Os objetivos do tratamento da AR são: aliviar a dor, manter ou melhorar a capacidade funcional, prevenir as incapacidades, adaptar o paciente ao meio e melhorar a sua qualidade de vida.

A fisioterapia é fundamental em toda fase da doença, com a finalidade de corrigir a perda ou limitação do movimento articular, atrofia ou fraqueza muscular e instabilidade e desalinhamento. O uso adequado de órteses poderá auxiliar na preservação de energia e da função articular e na prevenção de deformidades maiores. A reabilitação também é importante para os casos mais avançados da doença e a terapia ocupacional, com seus instrumentos especialmente adaptados a cada paciente, pode melhorar sua qualidade de vida.

 

FISIOTERAPIA AQUÁTICA


O termo fisioterapia aquática significa toda a aplicação externa de água com finalidade terapêutica. Esta fisioterapia de reabilitação subaquática ocupa-se de exercícios e movimentos determinados pela necessidade específica de cada indivíduo.

A unicidade da água está principalmente no seu empuxo, que alivia o estresse sob as articulações sustentadoras de peso e permite que se realize movimento sem forças gravitacionais reduzidas; desta forma as atividades que não sustentam peso podem ser iniciadas na água antes de serem possíveis no solo.

Na água, em imersão, existe uma série de efeitos relacionados a forças físicas, atuando sofre o organismo, afetando e gerando respostas fisiológicas em quase todos os sistemas.

As propriedades físicas incluem massa, peso, densidade, gravidade específica, flutuabilidade, pressão hidrostática, superfície de tensão, refração e viscosidade. Os princípios da hidrodinâmica que possuem uma importância particular são aqueles que estão relacionados à densidade, à turbulência, ao metacentro e à pressão hidrostática.

Em piscina terapêutica, o ideal é que a temperatura esteja entre 33 e 36º, a duração da sessão pode variar entre 30 e 60 minutos e a freqüência deve ser de duas a três vezes por semana.

Os efeitos terapêuticos dos exercícios na água estão relacionados ao alívio da dor e espasmos musculares; manutenção ou aumento da ADM das articulações; fortalecimento dos músculos enfraquecidos e aumento na sua tolerância aos exercícios; reeducação dos músculos paralisados; melhoria da circulação; encorajamento das atividades funcionais; manutenção e melhoria do equilíbrio, coordenação e postura.

Do ponto de vista psicológico, existem muitas recomendações para atividade na água. Em épocas mais recentes, reconheceu-se o efeito sedativo da água quente e o valor dos programas de natação para as pessoas afetadas por doenças mentais. A pessoa que pode nadar e participar de qualquer atividade aquática possui uma vantagem social. A habilidade de ser independente na água, de atingir as habilidades que podem ser impossíveis ou difíceis no solo só pode ter efeitos psicológicos favoráveis e duradouros, que elevam a confiança e o moral, e isso pode ser transferido para a vida em terra.

As principais metas do tratamento de doenças reumáticas são: alívio da dor, inchaço e rigidez; promoção do relaxamento; mobilização das articulações; fortalecimento muscular; correção/ prevenção das contraturas; melhora da coordenação e da habilidade funcional; e melhora do moral.

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO – SF-36

A avaliação da qualidade de vida é feita basicamente pela administração de instrumentos ou questionários que, em sua grande maioria, foram formulados na língua inglesa, e direcionados para utilização na população que fala esse idioma.

A preocupação com o conceito qualidade de vida refere-se a um movimento dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar os parâmetros mais amplos que o controle dos sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida.

O SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey) é um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, de fácil administração e compreensão, porém nem tão intenso como os anteriores formulados. É um questionário multidimensional formado por 36 itens englobados em 8 escalas ou componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos emocionais e saúde mental. Apresenta um escore final de 0 a 100, no qual zero corresponde ao pior estado de saúde e 100 o melhor estado de saúde.

Por ser a artrite reumatóide uma doença crônica e incapacitante, grande ênfase está sendo dada ao estudo de qualidade de vida desses pacientes no decorrer da doença. O uso de questionários genéricos para a avaliação da qualidade de vida tem sua importância, também por permitir a comparação de patologias entre si.

A validade do SF-36 foi avaliada através da verificação da relação de seu score com outros parâmetros clínicos comumente utilizados na avaliação de pacientes com artrite reumatóide, tais como: rigidez matinal (em minutos), avaliação da dor por escala numérica (0 = sem dor e 10 = dor extrema), classe funcional (de acordo com os critérios da ACR), avaliação global do estado da doença pelo médico e pelo paciente por escala numérica (0 = sem atividade e 10 = atividade extrema), contagem de articulações dolorosas e inflamadas.

OBJETIVO


O objetivo do estudo é identificar e comparar os efeitos na qualidade de vida dos pacientes com artrite reumatóide em condutas na fisioterapia aquática e atividades terapêuticas realizadas em solo.

JUSTIFICATIVA

A artrite reumatóide (AR) é a mais comum das artrites inflamatórias, acometendo cerca de 1% da população adulta em geral, sendo mais freqüente na faixa etária de 30 – 50 anos, com predominância no sexo feminino.

A natureza crônica da AR leva a períodos de inatividade prolongada. A inatividade ou desuso resulta em redução da força e da resistência muscular pela hipotrofia dos músculos e tecidos periarticulares. Somando-se a essa alteração, a inatividade contribui para a redução da capacidade aeróbia, e a intensidade da dor, inflamação e derrame nas articulações levam à inibição reflexa da contração muscular.

A fisioterapia aquática é toda e qualquer aplicação externa de água com finalidade terapêutica. Esta fisioterapia de reabilitação subaquática ocupa-se de exercícios e movimentos específicos e individuais para cada paciente, trabalhando a parte aeróbica, grandes grupos musculares e várias articulações ao mesmo tempo.

A fisioterapia aquática atua juntamente com os princípios físicos da água, tais como a temperatura, pressão hidrostática, flutuação, turbulência, densidade, viscosidade e tensão superficial. Essa união da fisioterapia aquática, com os princípios físicos da água, proporciona para o paciente uma série de benefícios, dentre eles encontram-se a diminuição da dor, do espasmo muscular, da rigidez e absorção de edemas, que são sintomas comumente presentes em pacientes com AR.

Além disso, a fisioterapia aquática resulta em alguns efeitos fisiológicos benéficos para os sistemas do corpo humano, sendo que os mais comumente atingidos são: termorregulador, cardiorrespiratório, nervoso, renal, imunológico e músculo-esquelético, dos quais alguns podem estar afetados na AR.

Um dos grandes valores considerados pela fisioterapia aquática é o psicológico. Mesmo o menor dos movimentos voluntários (que não são possíveis fora da água) ajuda o paciente a vivenciar uma “imagem corporal” do movimento. Deste modo, há um reforço do moral do paciente e ele se sente melhor, por não necessitar dos aparelhos ortopédicos usados em solo e pela facilidade dos movimentos, proporcionando confiança para alcançar máxima independência funcional.

Portanto, a fisioterapia aquática é muito importante em relação aos aspectos psicológicos em pacientes com AR, uma vez que estes apresentam uma limitação das atividades de vida diárias e sociais devido à diminuição de sua capacidade funcional, o que geralmente acarreta em sintomas, como falta de autoconfiança, ansiedade, depressão e diminuição da auto-estima.

MATERIAIS E MÉTODOS
           
Participaram deste estudo 30 pacientes, de ambos os sexos e com idades compreendidas entre 24 e 74 anos, com diagnóstico de artrite reumatóide (AR), sendo que 15 realizam fisioterapia aquática e os restantes apenas fisioterapia em solo, levantamento realizado em clínicas e universidades localizadas no bairro do Tatuapé pertencente à Zona Leste da Grande São Paulo.

A tabela I demonstra o nível social desses pacientes de acordo com a quantia de salários mínimos recebidos.

MÉDIA DOS SALÁRIOS
0
1 A 3
4 A 7
8 A 10
ACIMA 10

Hidroterapia

13,3%
53,3%
26,6%
6,6%
O%
Ortopedia
6,6%
80%
0%
0%
13,3%
       

Tabela IMédia do salário mínimo dos pacientes

Foram incluídos pacientes com AR de acordo com os critérios de classificação propostos pela American Rheumatism Association (ARA).

Foram excluídos os pacientes com qualquer outra patologia reumática associada.

Foi utilizado como instrumento de avaliação, um questionário no qual constam perguntas sobre dados pessoais (nome, data de nascimento, estado civil, número de filhos, grau de escolaridade, faixa salarial e profissão), artrite reumatóide (tempo de diagnóstico, antecedentes familiares, articulações mais acometidas, rigidez matinal e uso de adaptações) e qualidade de vida (SF-36). Aqueles indivíduos que realizam fisioterapia aquática responderam um questionário específico sobre fisioterapia aquática. Os resultados foram analisados qualitativa e quantitativamente.

Os pacientes assinaram um termo de consentimento e concordância, consentindo a obtenção dos dados para pesquisa e publicação.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO


Na tabela II encontram-se descritos alguns dos dados colhidos na avaliação dos pacientes de ambos os grupos. Segue abaixo a tabela:

Dados analisados
Fisioterapia aquática
Fisioterapia em solo
p

Média de idade

47,73 anos
51,27 anos
0,43
Média do tempo de diagnóstico
13 anos
9,53 anos
0,16
Sexo
M – 20% F – 80%
M – 0% F – 100%
-------
Tempo de rigidez matinal
77 minutos
124 minutos
0,01*

Tabela IIDados dos pacientes avaliados.

De acordo com a tabela II, observou-se que a idade média dos pacientes que realizam fisioterapia aquática foi de 47,73 anos, sendo que destes 80% eram do sexo feminino e 20% do sexo masculino e a idade média dos pacientes que realizam fisioterapia em solo foi de 51,27 anos, sendo que destes 100% eram do sexo feminino.

Segundo a literatura, a artrite reumatóide (AR) tem prevalência entre 0,5 e 1,0% na população adulta; porém esse valor aumenta para 45%, considerando-se a população entre 55 e 75 anos de idade, com predominância no sexo feminino.

A média do tempo de diagnóstico (tabela II) dos pacientes não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupo, o que não influenciou nos resultados do estudo.

A rigidez matinal esteve presente em 100% dos pacientes de ambos os grupos. Através da tabela II nota-se que a diferença entre o tempo de rigidez matinal de ambos os grupos foi estatisticamente significativa.

Segundo Degani (1998), o sangue aquecido relaxando a musculatura pela transferência do calor por condução, somado ao efeito da diminuição da dor proporciona alívio ao espasmo muscular, melhora a circulação sanguínea local e tende a reduzir a tensão dos ligamentos, tendões e musculatura vascular. Quando as articulações são mobilizadas, a amplitude de movimento aumenta mais facilmente, indicando maiores vantagens para o uso da água aquecida como meio terapêutico.

O questionário SF-36 foi usado para avaliar a qualidade de vida dos pacientes. Cada componente apresenta um escore de 0 a 100, sendo zero o pior estado geral de saúde e cem o melhor estado geral de saúde. Os resultados dos dados colhidos através deste questionário estão demonstrados na tabela 2, que segue abaixo:

Médias dos componentes
Fisioterapia aquática
Fisioterapia em solo
p
Capacidade Funcional
28
34,33
0,48
Aspecto Físico
45
26,67
0,25
Dor
40,20
48,80
0,21
Estado Geral de Saúde
49,60
40,73
0,09
Vitalidade
54,67
40,33
0,09
Aspectos Sociais
65
55,83
0,38
Aspectos Emocionais
64,44
24,44
0,02*
Saúde Mental
72,53
58,67
0,12

Tabela III. Dados do questionário SF-36.

O item Capacidade Funcional que avalia a atividade que o indivíduo poderia desenvolver durante um dia comum; e a dor, onde é especificada a quantidade de dor no corpo que o paciente apresentou e, o quanto esta dor interferiu no seu trabalho normal. Não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, porém foi um pouco melhor nos pacientes que realizam fisioterapia em solo.

A união da fisioterapia aquática com os princípios físicos da água proporciona para o paciente uma série de benefícios, dentre eles encontram-se a diminuição da dor, do espasmo muscular, da rigidez e reabsorção de edemas, que são sintomas comumente presentes em pacientes com AR.

Na fisioterapia em solo as atividades são propostas próximo da realidade funcional do paciente, enquanto que em piscina a vantagem é treinar e desenvolver a segurança desse paciente pela diminuição da velocidade dos movimentos, que permite a proteção a quedas, gerada pela pressão hidrostática e pela viscosidade do meio e a força draga.

Em relação à dor, sabe-se que este é o sintoma mais comumente encontrado em indivíduos com AR. Na fisioterapia em solo, a eletroterapia pode ser utilizada como método para o alívio da dor. Tal método atua com diminuição imediata e prolongada da dor. Já na fisioterapia aquática, segundo Norm e Hanson (1998), as propriedades físicas e fisiológicas da água promovem uma diminuição da dor durante o período de imersão, onde a flutuabilidade diminui a carga sobre as articulações sustentadoras e o sistema nervoso simpático é suprimido pela imersão, pois os estímulos sensoriais gerados pela temperatura elevada da água inibem os estímulos de dor, ocorrendo então a interrupção do ciclo da dor.

Os componentes Aspectos Físicos, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Aspectos Sociais e Saúde Mental foram avaliados, mas também não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, porém os pacientes que realizam fisioterapia aquática apresentaram um escore melhor do que os que realizam fisioterapia em solo.

A natureza crônica da AR leva a períodos de inatividade prolongada. A inatividade ou desuso resulta em redução da força e da resistência muscular pela hipotrofia dos músculos e tecidos periarticulares.

Uma vez que qualquer movimento gera turbulência, esta pode ser utilizada na fisioterapia aquática, tanto para auxiliar quanto para impor uma resistência aos movimentos. Sendo assim, pode-se trabalhar a força e a resistência muscular através desse princípio físico da água, melhorando o aspecto físico dos pacientes.

Com o progredir da doença, pode ocorrer limitação da mobilidade e até anquilose articular e subluxações ou luxações completas das articulações, com grande incapacidade funcional. Os princípios físicos e fisiológicos promovidos pela água juntamente com o exercício físico geram uma melhora dos comprometimentos e manifestações causadas pela AR, assim favorecendo um melhor estado geral de saúde aos pacientes.

A piscina terapêutica promove diversos benefícios que auxiliam na recuperação da vitalidade do indivíduo, como alívio de tensão e estresse, descontração e prazer. Alguns dos grandes valores proporcionados pela fisioterapia aquática são o psicológico e o social, pois esta promove bem-estar físico e mental, integração, sociabilização e aprendizagem de novas habilidades.

Alteração no trabalho ou outra atividade regular diária devido a algum problema emocional, como se sentir deprimido ou ansioso, foi avaliado no componente aspecto emocional. Neste item a relação, entre o aspecto emocional dos pacientes de cada grupo, apresentou diferença estatisticamente significativa, mostrando que, o aspecto emocional de um paciente que realiza fisioterapia aquática é melhor, do que nos pacientes, que realizam somente a fisioterapia.

De acordo com Skare (1999), a dor é um dado subjetivo e extremamente sujeito a variações individuais e influência do psiquismo. Uma queixa descrita como intolerável, em um paciente capaz de exercer suas atividades normalmente, sugerem que fatores emocionais ampliam os sintomas.

A fisioterapia aquática auxilia grandiosamente no aspecto emocional dos indivíduos com AR, pois o tratamento em piscina terapêutica reforça o moral do paciente e ele se sente melhor por não necessitar dos aparelhos ortopédicos usados em solo e pela facilidade dos movimentos, proporcionando confiança para alcançar máxima independência funcional e diminui a ansiedade.

CONCLUSÃO


Pelo presente estudo, pode-se demonstrar que a qualidade de vida de um paciente com artrite reumatóide (AR) que realiza tratamento de fisioterapia aquática é melhor do que a de um paciente que realiza apenas fisioterapia em solo, mesmo que os resultados desse estudo não tenham apresentado diferenças estatisticamente significantes, visto que estes foram obtidos devido ao baixo número de pacientes avaliados.

Acredita-se que, segundo os benefícios proporcionados pelo tratamento em piscina terapêutica que constam na literatura, que seria necessário um maior número de pacientes com AR, para avaliar se existe uma diferença estatisticamente significante na qualidade de vida dos que realizam a fisioterapia aquática, comparados com os que realizam fisioterapia em solo.

Concluímos isso, utilizando o questionário SF – 36, além de um questionário contendo dados pessoais dos sujeitos e outro específico para aqueles que realiza fisioterapia aquática.

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