No futuro, comida do brasileiro será processada e gourmet


Sob a influência do crescimento da renda familiar, da melhoria do nível educacional e das políticas públicas, o brasileiro deve começar a se preocupar mais com a alimentação nos próximos anos. Um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) aponta que o aumento de renda da população e a diminuição da desigualdade social no país foram responsáveis por uma mudança na nossa mesa: a busca por produtos "gourmet" aumentou quatro vezes nos últimos anos. Por produtos "gourmet", entenda-se produtos com mais qualidade, diferenciados e mais caros.

De acordo com a pesquisa, o tradicional prato de arroz com feijão não será abolido, mas dividirá espaço na mesa dos consumidores mais exigentes com uma dieta recheada de massas, sushis, ceviches, tacos e comidas de etnias variadas.

"Com mais dinheiro no bolso, o brasileiro tende a comprar cada vez mais produtos gourmet, o que irá democratizar o luxo e a alimentação premium em todo o país. Com mais dinheiro, o brasileiro deve consumir muito mais das melhores coisas do mundo", afirmou o diretor do Ital Luis Madi.

Segundo Madi, a alimentação do brasileiro vai continuar melhorando, de acordo com o estilo de vida de cada um. "Temos um mix de produtos que dependem do estilo de vida de cada um. São produtos adequados e saudáveis de acordo com o ritmo de cada família. Tanto para quem não tem tempo e pode encontrar nas prateleiras produtos prontos e seguros em termos de nutrientes e contaminação, quanto para os que preferem cozinhar em casa", ressaltou Madi.

Conforme o Ital, dados da POF/IBGE mostram que quanto maior a renda familiar, melhor é a alimentação. Por exemplo, famílias que têm renda de 15 salários mínimos por mês, consomem cerca de 100 vezes mais filé-mignon e quatro vezes mais frutas, legumes e vegetais do que as que vivem com dois salários mínimos. Esses são apenas alguns exemplos de como a renda determina o que o brasileiro põe na mesa. 

Processados e transgênicos

Considerados erroneamente como os vilões da boa mesa, os alimentos processados tendem a ser reformulados em versões mais "saudáveis" e adequadas ao paladar brasileiro, incorporando grãos integrais, frutas e vegetais, sementes, amêndoas e ingredientes funcionais, tais como as fibras e o Ômega-3. Muitos destes produtos já estão disponíveis nos supermercados, embora costumem apresentar preços superiores aos das versões tradicionais mais simples.

Segundo o professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp Mário Roberto Maróstica Júnior, é errado tratar os produtos processados como os vilões da boa mesa. "É inimaginável viver sem esses produtos. Ao contrário do que se pensa, os processados passam por um rigoroso controle para garantir os nutrientes indicados no rótulo. O consumidor precisa estar atento ao rótulo do produto para ver se ele vai de encontro ao que ele precisa. Claro que existem processados ruins, assim como existem naturais ruins também", comenta.

É possível prever mudanças significativas na composição das dietas, com maior procura por quantidade, qualidade, variedade e conveniência. Os transgênicos também estão cada vez mais disseminados. Em um mundo com crescimento populacional acelerado, os transgênicos aumentam a oferta de alimentação e também passam por critérios de avaliação.

"O grande desafio da indústria é reduzir os açúcares simples, as gorduras saturadas e o sódio", afirma Júnior. Entretanto, segundo ele, o que mais conta na hora da compra ainda é o sabor. "O sabor ainda é o fator determinante para a compra. Por isso, além de saudáveis, os alimentos têm de ser saborosos", concluiu.

Saúde

Nos próximos anos, a produção de alimentos saudáveis também deverá ser mais incentivada e estimulada por políticas públicas. A exemplo de outros países, o Brasil deverá intensificar o combate ao avanço de doenças que podem estar relacionadas à alimentação, como obesidade e diabetes.

Com isso, a oferta de produtos mais saudáveis deve apresentar um crescimento significativo. O objetivo dessas políticas é preventivo, o que resulta na redução de gastos com assistência social, que já sinalizam um significativo rombo nas finanças públicas.

Investimentos em programas que reduzem gordura, sódio e açúcar dos produtos alimentícios e incentivam o consumo de alimentos orgânicos e provenientes da agricultura familiar já existem e devem começar a dar resultado significativo a curto prazo.
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