Em 2003, foi promulgada a Lei N°10.674, que obriga a que os produtos
alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten, como
medida preventiva e de controle da doença celíaca
A doença celíaca afeta cerca de 1% da população, mas “epidemias
ocasionais” têm sido notadas, juntamente com uma variação sazonal no
número de casos diagnosticados. A Suécia sofreu uma “epidemia” de doença
celíaca em crianças abaixo de dois anos de idade. E de acordo com uma
pesquisa publicada na revista BMC Pediatrics, infecções repetidas no
início da vida aumentam o risco para a doença celíaca.
O
estudo, baseado em casos suecos, comparou o histórico de saúde de
crianças diagnosticadas com a doença celíaca com o de crianças sem a
doença. A idade média de desenvolvimento da doença celíaca foi aos 11
meses de idade, com diagnóstico quatro meses depois.
Segundo os
pesquisadores, ter três ou mais infecções (relatadas pelos pais) aumenta
do risco de doença celíaca em 50%. A gastroenterite por si só aumenta o
risco em 80%. O risco mais elevado foi observado em crianças que
tiveram várias infecções, antes dos seis meses de idade, e que também
ingeriram grandes quantidades de glúten, logo após a introdução deste
alimento.
Bebês que tinham parado o aleitamento materno, quando
o glúten foi introduzido na dieta, também eram mais vulneráveis a
desenvolver a doença celíaca. Os pesquisadores destacaram a importância
da amamentação na redução do risco de doença celíaca, especialmente em
crianças que apresentam infecções frequentes.
Doença da moda?
Segundo o gastroenterologista Silvio Gabor, (CRM-SP 47.042), muitos
pacientes o questionam se a doença celíaca é uma “nova doença”, surgida
nos últimos tempos. “Na verdade, a doença foi descrita, pela primeira
vez, no século II, pelo grego, Arataeus da Capadócia, que informou a
existência de uma diarreia que aparecia em crianças, após a ingestão de
farináceos e que se revertia com sua suspensão. A essa ocorrência ele
chamou de “Koliakos” (aquele que sofre do intestino). Em 1888, Samuel
Gre descreveu a doença com mais detalhes e aproveitou o termo grego para
chamá-la de “afecção celíaca”, concluiu também que a única maneira de
tratá-la seria pela não ingestão de farináceos”, explica o médico.
Durante a Segunda Guerra Mundial, em meio ao grande racionamento
alimentar, um pediatra holandês verificou que crianças com afecção
celíaca melhoravam, apesar da grave falta de alimentos, e atribuiu essa
melhora à baixa oferta de cereais na época.
Ainda no século XX,
médicos ingleses demonstraram que o glúten era o que provocava a doença
e descreveram as alterações da mucosa do intestino de pacientes
celíacos operados. Coube a dois americanos o desenvolvimento de um
aparelho capaz de acessar e biopsiar a mucosa intestinal sem a
necessidade de cirurgia, facilitando o diagnóstico da doença.
A
doença celíaca é uma doença autoimune, que atinge cerca de 1% da
população mundial e cerca de 900.00 brasileiros, caracterizada pela
intolerância permanente ao glúten em indivíduos geneticamente
predispostos. Mais especificamente é uma intolerância à gliadina, uma
proteína presente no trigo, na aveia, no centeio e na cevada (e seu
subproduto malte), cereais utilizados na composição de alimentos,
medicamentos, bebidas industrializadas e até mesmo de alguns cosméticos.
Quando esses cereais são ingeridos e atingem a porção inicial do
intestino delgado, provocam uma reação imunológica que leva a um
processo inflamatório crônico desta região, prejudicando a absorção dos
alimentos, dos sais minerais e de outros nutrientes. “A doença celíaca é
mais comumente diagnosticada entre o primeiro e terceiro ano de vida,
mas pode manifestar-se em qualquer idade, inclusive em adultos e
idosos”, observa o gastroenterologista.
Sintomas da doença celíaca
De acordo com seus sintomas, a doença celíaca pode ser classificada em clássica, não clássica e assintomática.
· Clássica: as primeiras manifestações podem ocorrer entre o
primeiro e o terceiro ano de vida. Caracteriza-se por diarreia crônica
devida a ingesta de trigo, emagrecimento, falta de apetite, desnutrição,
déficit de crescimento e de ganho de peso, anemia por deficiência de
ferro e/ou vitamina B12, distensão abdominal, glúteos atrofiados, braços
e pernas finos, apatia e em casos mais graves de desnutrição que pode
levar à morte. Os adultos podem apresentar esterilidade ou abortos de
repetição, osteoporose, hemorragias, tetania e câncer de intestino
delgado;
· Não clássica: as alterações intestinais não
chamam tanto a atenção. Anemia persistente por deficiência de ferro ou
vitamina B12, baixo ganho de peso e de estatura, prisão de ventre,
manchas no esmalte dos dentes, irritabilidade, fadiga, epilepsia sem
causas aparentes, neuropatia periférica, miopatia, depressão, autismo ou
esquizofrenia podem estar relacionados a essa forma da doença. “Adultos
podem apresentar esterilidade ou osteoporose antes da menopausa.
Elevações dos níveis sanguíneos de enzimas hepáticas e perda de peso sem
causas aparentes podem ser manifestações isoladas da doença celíaca”,
afirma o gastroenterologista Silvio Gabor;
·
Assintomática: não existe manifestação da doença apesar dela estar
presente. Parentes de primeiro grau de celíacos têm cerca de 10% de
chances de desenvolverem a doença e devem ser pesquisados. Se não
tratados, estes casos podem evoluir com abortos de repetição,
esterilidade, osteoporose precoce e câncer de intestino.
Diagnóstico e tratamento da doença celíaca
O diagnóstico da doença celíaca pode ser feito por meio de exames
laboratoriais como o teste da absorção da D-xilose e da dosagem de
gordura nas fezes, que mesmo sendo inespecíficos são bastante úteis
diante da suspeita clínica.
“Outros exames como a dosagem de
anticorpos anti-gliadina, anti-endomisio e anti-transglutaminase são
mais específicos e podem chegar a quase 100% dos diagnósticos, com
poucos casos de falso positivo ou falso negativo. A biopsia endoscópica
do intestino delgado entre a terceira porção do duodeno e o jejuno
proximal realizada com pelo menos 4 fragmentos fornece o diagnóstico
certeiro da doença celíaca”, explica Gabor, que também é cirurgião.
O
tratamento é feito com a suspensão completa e permanente do glúten da
dieta. “Pães, bolos, macarrão, bolacha, pizza, coxinha, quibe, cerveja,
whisky, vodka e qualquer alimento ou bebida que possua o glúten na sua
composição ou fabricação são proibidos. O glúten pode ser substituído
por farinha de arroz, amido de milho, farinha de mandioca, fubá, fécula
de batata, trigo sarraceno ou quinôa. O café industrializado deve ser
evitado por conter cevada em sua composição. O café, em seu estado
puro, é permitido”, recomenda Silvio Gabor.
Convivendo com a doença
“Como não existem medicamentos ou outros tratamentos diferentes da
suspensão do glúten da dieta até os dias atuais, a observação da não
ingesta de glúten deve ser rigorosa e para o resto da vida. Com isso, o
paciente portador da doença celíaca, poderá ter uma vida normal, tanto
do ponto de vista pessoal quanto familiar e profissional”, diz o
gastroenterologista.
Por ter características hereditárias, os
parentes de primeiro grau dos celíacos deverão ser avaliados. Quando
diagnosticados como portadores da doença deverão ser orientados quanto
aos seus hábitos alimentares e cuidados com descendentes diretos. “Após o
diagnóstico, a ajuda de profissionais como nutricionista e psicóloga(o)
é sempre importante para a obtenção de melhores resultados no
tratamento”, observa o médico.
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Doença celíaca está relacionada a infecções repetidas na infância