Confira a tecnologia que ajuda vítimas de Parkinson a viver melhor


Se a tecnologia muda a vida de tanta gente todos os dias com entretenimento, informação e coisas surpreendentes, com a Lígia ela foi além: a tecnologia devolveu a união da família, a liberdade e a retomada da busca dos seus sonhos.

Há sete anos, Lígia foi diagnosticada com Mal de Parkinson. O diagnóstico do Parkinson Juvenil – que tem por característica a degeneração dos neurônios ainda mais rápida do que em idosos – levou dois anos para ser decretado. O início foi bastante difícil; a doença que afeta principalmente a coordenação motora da pessoa colocou a Lígia em um estado de fraqueza e dependência total.

A ciência sempre buscou formas de interagir com o funcionamento do cérebro, que trafega informações no seu interior através de estímulos elétricos. E foi exatamente com eletricidade que o tratamento do Parkinson com este aparelho atingiu um grau bastante interessante e que já é uma realidade inclusive no Brasil.

Semelhante a um marca-passo cardíaco, o neurotransmissor é implantado cirurgicamente sob a pele e fornece estimulação elétrica a regiões afetadas do cérebro.

O neurocirurgião da Santa Casa-SP Nilton Lara conta que a bateria é implantada no peito. "Só um fiozinho entra no cérebro", ele explica. "É um sistema com memória, capaz de produzir estímulos elétricos conforme um comando que a gente dá", conta o médico.

Assim que ficou sabendo da possibilidade da cirurgia, Lígia viveu uma sensação mista de medo e esperança. Mas não pensou duas vezes...

A cirurgia é toda feita com o paciente acordado e lúcido. Saber o local exato do implante do cabo-eletrodo no cérebro do paciente também envolve muita tecnologia. Os médicos usam uma espécie de “GPS do cérebro” para encontrar o local exato e, mesmo assim, não é tarefa fácil – leva de seis a oito horas para ser realizada.

"São técnicas de computação gráfica, com fusão de imagem de ressonância com tomografia e técnicas de eletrofisiologia e intraoperatória. Traduzindo: você consegue, através do aparelho de microrregistro, registrar a atividade das células doentes e seus disparos. E através disso, você pode definir o melhor ponto para implantar o eletrodo", cita o neurocirurgião.

O cabo implantado no cérebro é ligado por uma extensão subcutânea desde a cabeça, passando pelo pescoço, até a parte superior do peito, onde é colocado o neurotransmissor – que tem memória, uma antena e bateria com duração de até cinco anos.

A estimulação das regiões afetadas do cérebro bloqueia os sinais que causam os sintomas motores da doença de Parkinson. Interessante é que o neurotransmissor pode ser ajustado remotamente para maximizar os benefícios da terapia.

"Você consegue colocar o aparelho de telemetria (que é como se fosse um Wi-Fi) no peito e você consegue configurar o seu aparelho, aumentando ou diminuindo intensidade e mudar outros parâmetros que adequam a linguagem do aparelho ao cérebro", conta o especialista.

Segundo o doutor Nilton Lara, o implante não cura o Mal de Parkinson, mas melhora significativamente os sintomas motores da doença como a tremedeira, a falta de coordenação, a rigidez do corpo e a lentidão dos movimentos.

"Os sintomas motores da doença de Parkinson são minimizados de forma significativa, mas não é uma cura. A doença é degenerativa e progressiva", conta Nilton Lara.

A Lígia é um grande exemplo do sucesso do implante. Como dissemos no início, a tecnologia do neurotransmissor devolveu a ela a capacidade de fotografar novamente, seguir em busca dos seus sonhos e também devolveu sua autonomia...

Vale destacar que não é qualquer paciente com Mal de Parkinson que é beneficiado pelo neurotransmissor. Mais do que isso, no Brasil, a cirurgia e o aparelho em si são bastante caros. Ainda assim, o Sistema Único de Saúde prevê a cirurgia, mas enfrenta muita dificuldade em conseguir o equipamento para ser implantado no paciente.

Tão interessante quanto o tratamento do Parkinson é que pesquisas para interagir eletronicamente com o cérebro estão a todo vapor em todo o mundo. O doutor Nilton nos contou que existem outros pontos – outros alvos – sendo investigados dentro do cérebro e não só para o Mal de Parkinson.

"É possível tratar a obesidade através de sistema; alguns países usam para tratar vício em drogas, diminuindo a vontade da pessoa usar drogas. Como é um sistema reversível, uma vez que a pessoa esteja livre, ele pode ser desligado", explica o neurocirurgião.


Fique ligado, no próximo capítulo da série “Medicina Hi-Tech”, você vai conhecer as reconstruções de próteses em 3D, mais um avanço da tecnologia que promete mudar a vida de muita gente em um futuro cada vez mais próximo.

Fonte: Olhar Digital-UOL

Comentários