Por Susana Falchi*
Projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que, em 2030, a
depressão será a doença mais comum no planeta, à frente do câncer e de
doenças infecciosas. De acordo com a entidade, atualmente, cerca de 121
milhões de pessoas sofrem desse mal. Segundo o órgão, 350 milhões de
pessoas (cerca de 5% da população
mundial) sofreram algum episódio de depressão no ano passado. No Brasil,
segundo o Ministério da Saúde, 25 milhões de pessoas são depressivas,
com manifestações leves, moderadas ou severas.
Parte importante
das causas desse distúrbio resulta da vida profissional. “O trabalho
representa uma importante instância na patogenia, no desencantamento e
na evolução de distúrbios psíquicos”, afirma Edith Seligmann-Silva,
doutora em medicina e especializada em Saúde Pública, ambos pela
Universidade de São Paulo, e autora de diversos títulos sobre
psicopatologias do trabalho. Além da insatisfação profissional, medo do
desemprego e preocupações com a renda, um fator ganha força cada vez
maior no agravamento desse quadro: o assédio moral.
A busca
crescente por resultados financeiros, ganhos de produtividade,
enxugamento de mão de obra e o consequente acúmulo de funções, entre
outros, aumentam as tensões no ambiente de trabalho. A isso, mais vezes
do que se supõe, somam-se ações como ignorar um funcionário,
maltratá-lo, desprezá-lo, retirar-lhe responsabilidades e atribuir-lhe
tarefas e metas infactíveis. Quando constantes, práticas como essas
caracterizam o assédio moral, que acaba por comprometer a performance
profissional de uma pessoa e, muitas vezes, sua saúde mental e física.
Na maior parte dos casos, essa prática ocorre de forma vertical, ou
seja: parte de um superior a um subordinado. Há também o bullying de
caráter horizontal, caso do chamado mobbing. Ocorre quando um grupo
passa a praticar assédio psicológico contra um colega de mesmo nível
hierárquico, por exemplo, por meio de críticas e comentários,
disseminação de rumores ou ridicularização. Por vezes, esse
comportamento parte de pessoas que buscam, de formas pouco
profissionais, agradar a superiores, repetindo, quando possível, seus
atos.
Entre as consequências que a vítima de assédio moral pode
enfrentar estão episódios depressivos, transtorno de estresse
pós-traumático, neurastenia, neurose profissional, síndrome de
esgotamento profissional, entre outros. Há ainda a chamada Síndrome de
Burnot. Causado pelo estresse profissional, o mal acomete muito os
chamados “workaholics”. Porém, suas causas estão intimamente ligadas a
uma percepção de desvalorização profissional, característica marcante da
exposição ao assédio moral.
A Síndrome de Burnout se
caracteriza por tensão, esgotamento físico e mental extremo, fadiga
persistente, distúrbios de sono, dores musculares e de cabeça,
enxaquecas, problemas gastrointestinais, respiratórios e
cardiovasculares. É um quadro extremo dos males a que um trabalhador
pode ser exposto.
O número de doenças psíquicas catalogadas que
têm algum vínculo com o trabalho e as práticas de assédio moral
identificadas e nomeadas basta para se ter uma noção do quão preocupante
é o quadro. Os prejuízos não se restringem aos profissionais expostos a
essas práticas, mas também aos CEOs, sócios e donos de uma empresa,
que, com desvios de conduta de seus executivos, podem ter diversos tipos
de prejuízos em seu negócio.
Um levantamento realizado pela
HSD Consultoria em RH a partir de 5 mil avaliações realizadas com
executivos detectou desvios de conduta em 20% dos pesquisados. Outro
dado revelador aponta que 90% dos desligamentos de profissionais com
cargos de chefia e gerência devem-se a comportamento e não a
conhecimento ou desempenho. Desses, mapeados para identificação de
potencial, 100% apresentavam desvios de conduta que representavam
potenciais prejuízos financeiros para seus empregadores.
Poucas
empresas expressam preocupação com o conhecimento do perfil
comportamental de seus executivos e lideranças, não só no que se refere a
atitudes observáveis, mas principalmente quanto à sua estrutura de
caráter. A conduta e a ação das pessoas que representam uma organização
pode ser uma referência para o sucesso ou fracasso de um negócio.
Apesar do indicador, observamos que algumas empresas relutam em tomar
decisões para o desligamento de executivos que apresentam desvios de
conduta. É comum CEOs justificarem essa omissão com o argumento de que
esses profissionais trazem resultados para o negócio. Porém, se há
desvio de conduta comprovado pela auditoria, uma ação imediata e
contundente deve ser tomada, já que, certamente, outras pessoas da
organização conhecem as práticas desse profissional. Nesses casos, as
medidas tomadas funcionam como uma mensagem. Quando nada é feito, outros
membros da equipe entenderão a empresa como tolerante a desvios de
conduta.
A omissão nesses casos é um erro grave, mesmo se
analisada apenas do ponto de vista financeiro. Além de potenciais perdas
por conta de ações trabalhistas, essas práticas acabam por comprometer a
parte operacional do negócio. Isso ocorre por conta do clima instalado
entre os funcionários. Faltas, turnover elevado, problemas
disciplinares, queda de performance, tensões e conflitos no ambiente de
trabalho tornam-se parte do cotidiano da empresa. As consequências
econômicas são óbvias, mas há ainda prejuízos à imagem institucional da
organização. Há casos de organizações que, mesmo com uma política
salarial atraente, acabam por ter dificuldades em atrair bons
profissionais, por conta da fama que têm no mercado.
***
(*)Susana Falchi é CEO da HSD Consultoria em Recursos Humanos,
executiva e consultora em Projetos Estratégicos em empresas nacionais e
multinacionais de grande porte. É administradora de Empresas com MBA em
RH pela FEA/USP.
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O assédio moral e os seus prejuízos às empresas onde eles acontecem