5 coisas que andam supervalorizadas por aí

Nossa sociedade sempre foi vítima dos padrões comportamentais, isso não é nenhuma novidade. Porém, parece que a nova "onda" do marketing é publicitar sentimentos e noções abstratas, colocando-as como extremamente necessárias, quando, na verdade, elas não o são, exatamente como a propaganda faz mesmo com tudo, de maneira geral. Mas, de tudo o que andam pregando por aí, acredito que existem 5 coisas que representam os Hits da Estação da supervalorização. Vamos a eles...

1. A PRESENÇA. Em tempos de conectividade é estranho pensar como, antagonicamente a todas as evoluções da tecnologia, cada dia mais, em empresas e até mesmo nas relações afetivas, a presença física tem sido colocada como "insuperável". Os escritórios relutam em incentivar o home office, da mesma forma que amigos e familiares se recusam a perderem horas de conversa via aplicativos como o skype, Viber e Face Time. Percebo que mesmo pessoas jovens preferem, muitas vezes, deixar de falar com alguém que mora longe pelo simples fato de que o diálogo não se dará ao vivo. Claro que "papos" "aqui e agora" são sempre mais divertidos do que esses mediados, porém uma conversa "virtual" é melhor do que nada. Precisamos começar a encarar as tecnologias como nossas amigas, como ferramentas que possibilitam a aproximação e a troca. Não podemos mais vê-las como usurpadoras dos encontros presenciais ou instrumentos de isolamento social. A conectividade é algo para somar, nunca para subtrair.

2. O AMOR. Parece que por mais distintos que possam ser os tipos humanos, todos eles têm o mesmo desejo latente: exibir um status de relacionamento que não seja simplesmente "solteiro" no facebook e, claro, pelo mundo afora. Pode ser uma relação aberta, amor livre, poliamor, casamento, relacionamento sério, affair... seja o que for, mas que designe um coração arrebatado e uma vida sexual bastante ativa. Estar sozinho não pega bem. Confere ao cidadão uma imagem de derrota, como se ele fosse incapaz de conquistar alguém e não tivesse qualidades. Também pode dar um ar de "desencontrado", que vive à margem. O mais esquisito é que as pessoas passam seus dias a negar toda e qualquer possibilidade amorosa com teorias de liquidez e independência, porém passam suas noites a buscá-lo por todas as partes. E quando finalmente o encontram, querem exibi-lo freneticamente nas redes sociais, abandonando o discurso anti-amor que antes tinham e oprimindo aqueles que pertencem à sua antiga classe dos "sozinhos".

Se considerarmos o marketing atual do amor, ter alguém é a solução de todos os nossos problemas e, os relacionamentos são verdadeiros contos de fadas sem crises ou altos e baixos. O relacionamento amoroso seria o PROZAC de nossos dias.

3. O TRABALHO. O que você faz da vida anda supervalorizado a níveis patológicos. Quem de nós nunca foi "vítima" do clássico approach "o que você faz?", como se, a maneira como você paga as suas contas te definisse e refletisse a sua personalidade? Claro que trabalhar não é só uma questão financeira, mas é exatamente esse o nó da questão. Existem muitas pessoas que aceitam empregos detestáveis para poderem realizar, em paralelo, outras atividades que lhe são extremamente caras e gratificantes, bem como há pessoas que não tendo outra opção. Eu mesma, já trabalhei em muitas coisas chatas, pois precisava pagar as contas e queria ter tempo livre para escrever. Já tive os empregos mais malucos e impensáveis e achava muito ruim quando tinha que me classificar como sendo a personificação de qualquer um deles. Mas até para a gente mais "normal", acredito ser desprestigiosa a definição de "advogado", "administrador" e etc. Afinal, as pessoas são múltiplas e nenhum ser humano nasceu pra ser uma coisa só. Vamos tentar ser menos reducionistas, respeitarmos a nossa pluralidade e melhorarmos essas cantadas?

4. A DIVERSÃO. Muita bebedeira, muita festa, e dá-lhe checkin, foto e vídeo! Quem não se diverte, tem algum problema sério de caráter. E se divertir não pode ser ler um livro, ir ao cinema, sair quietinho e sem espetacularizar a própria vida, receber amigos em casa ou descansar. Para ser divertido, tem que ser grande, longo, barulhento e público. E, de preferência, alcóolico. Aliás, sempre deve aparecer nas redes sociais, afinal, de que vale uma viagem se os seus 500 amigos do face não souberem que você a fez?

Sinto saudades de quando a diversão não tinha tanta "etiqueta" e tanta regra. Sinto falta de quando "ficar à toa e entre amigos" era considerado um bom programa.

5. OS LUGARES QUE VOCÊ FREQUENTA. Com os aplicativos dedicados a promover encontros "amorosos", as fotos dos lugares que se frequenta assumiram grande importância na vida daqueles que buscam obter sucesso na paquera. E, para essa preocupação migrar do Tinder para o Instagram de solteiros e comprometidos, não demorou nadinha. Os lugares que você frequenta são você. Eles refletem o que você é na essência, por isso, nada de colocar fotos daquele boteco xexelento que você adora. Não. Melhor valorizar o seu lado cool e descolado, colocando fotos em meio à natureza, em festas animadas e glamourosas, um almoço bacana com o pessoal da firma - para mostrar que você é bem-sucedido. Bebê e bichos de estimação garantem o lado "fofo".

Agora, se mais do que "likes" e "matchs", você quiser mesmo conhecer pessoas (e deixá-las te conhecer também), coloque fotos do que você realmente gosta, de frango a passarinho do boteco da esquina e piquinique no Jardin de Luxembourg. Autenticidade vale mais do que curtidas e é a tendência para a próxima estação.


    

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