Fisioterapeutas podem atuar com Hipnose no controle da Ansiedade, Depressão e Estresse!


Do UOL, em São Paulo
Cercada de mistérios, a hipnose ainda é vista com olhos tortos por muitas pessoas. Talvez por seu passado obscuro, ligado ao curandeirismo e a rituais mágicos tão antigos quanto a humanidade. Poucos sabem, no entanto, que se trata de uma prática reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como ferramenta de apoio ao diagnóstico e tratamento médico desde o fim da década de 90. E, como tal, de mística ela não tem nada.
A hipnose nada mais é do que um mecanismo mental, totalmente explicável pela ciência. De acordo com Osmar Ribeiro Colás, obstetra e especialista em hipnose da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), entrar em estado hipnótico é algo fisiológico, natural do organismo, que experimentamos várias vezes ao dia. “Entramos e saímos toda hora de estados de hipnose, pois não conseguimos ficar focados em algo o tempo todo”, diz.
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  • Na terapia da hipnose, a pessoa não fica “inconsciente”, como se acredita; ela apenas tem seu senso crítico diminuído e, com isso, fica mais aberta às sugestões dadas pelo médico.
Quando dizem que você está “viajando”, focalizado em algo a ponto de nem escutar quando te chamam, você está, na verdade, em uma espécie de hipnose. Mesmo presente, sua concentração é tamanha que tudo em volta acaba sendo bloqueado da percepção. É como se sonhasse acordado.
“Quando estamos concentrados em uma tarefa e não percebemos o tempo passar ou o que acontece ao redor, estamos em um processo hipnótico, pois a mente esta focada naquela ação e, com isso, as outras atividades deixam de ser prioritárias e passam despercebidas”, explica o psiquiatra Leonard Verea, formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de Milão, na Itália, e especializado em medicina psicossomática e hipnose dinâmica.
Ninguém sai do corpo, “voa” para longe ou fica fora de si quando é hipnotizado. “Ela não é igual ao sono. É um estado alterado de consciência, mas que mantém a pessoa presente. Por isso, ela não ‘volta’ de lugar algum, porque na verdade ela não foi”, diz Verea.
Nesses estados hipnóticos ocorre o bloqueio parcial da ação da mente consciente. “O senso crítico, que controla tudo o que você faz, fica diminuído, mas a consciência continua ativa”, explica Colás.
O que a hipnose como prática médica faz é levar o paciente a esse mesmo estado mental, mas de forma coordenada, por meio da indução hipnótica. Isso permite que sugestões dadas pelo terapeuta sejam aceitas com maior facilidade. “Usamos estratégias de comunicação que levam a pessoa a entrar neste estado modificado de consciência. E, com isso, se você está bebendo um copo de água e eu falo para você que é suco, a mente ‘aceita’ a sugestão e sente como se fosse um suco”, diz o médico da Unifesp.
Confiança
O primeiro passo para conseguir essa hipnose coordenada é o chamado rapport, que pode ser definido como um laço de confiança entre o terapeuta e o paciente, que poderá se soltar a ponto de ser conduzido em sua viagem hipnótica. “Todo o processo é muito mais uma processo de auto-hipnose, porque se a pessoa não quiser, ninguém conseguirá fazê-la entrar neste estado. Ela se coloca disponível, e o médico torna-se apenas um instrumento”, fala o psiquiatra.
O rapport depende, além da suscetibilidade do paciente, da comunicação do terapeuta. “É preciso ser bom de papo, agradável, ter percepção. Sem isso, a hipnose não acontece”, afirma Colás. “Não é só deitá-lo em uma poltrona e dar sugestões. Quando ele entra no consultório, faço uma leitura não verbal, escuto, faço perguntas. Há todo um envolvimento emocional”, continua Verea.
A capacidade de entrar em transe hipnótico tem uma grande ligação com a capacidade de abstração. “É a mesma genética que dá o dom artístico, musical, poético. São pessoas que têm maior facilidade em usar a imaginação”, conta Colás. Quem é muito racional, em geral, encontra mais dificuldade em abrir mão do controle e de se deixar levar pela hipnose, segundo ele.
Para saber se está neste grupo, ele sugere um teste simples: feche os olhos e imagine que o ar do ambiente está muito seco. Quando respira, ele ressaca totalmente a mucosa do seu nariz. Fique alguns segundos imaginando isto. Abra os olhos e preste atenção. Se perceber que algo mudou em seu nariz, mesmo que de forma sutil, você é uma pessoa mais suscetível à hipnose.
Aplicações clínicas
A hipnose é usada hoje por alguns dentistas como um anestésico natural, em pacientes que têm medo de tratamentos e cirurgias dentárias. A prática já é reconhecida como ferramenta clínica em odontologia desde 1993. Por meio dela, o dentista consegue levar o paciente a um estado de entorpecimento (analgesia) ou perda completa da sensação de dor (anestesia).
Outra aplicação da hipnose está no tratamento de problemas musculares e ósseos, como os de coluna, trazendo alívio da dor. Em 2010, a prática foi oficialmente aprovada pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional para ser usada em tratamentos da área. Veja resolução: http://goo.gl/As3sYz
Mas, segundo Colás, é na área de psicologia que a hipnose tem encontrado sua seara mais fértil. Apesar de usada desde os tempos de Freud, o pai da psicanálise, apenas no ano 2000 o Conselho Federal de Psicologia reconheceu o uso da prática em tratamentos da área.
Atualmente, ela costuma vir associada a um trabalho terapêutico, como um instrumento de apoio que permite acessar emoções e informações que de outras formas seriam quase impossíveis. Não é recomendável se submeter a sessões de hipnose com profissionais não habilitados.
Na terapia, o paciente é estimulado a lembrar detalhes de histórias e emoções do passado que foram total ou parcialmente esquecidas ou até mesmo bloqueadas pela mente. Algumas delas podem ser a chave para resolver traumas, fobias e problemas do presente. “Nós temos as imagens gravadas, a nossa vida toda em nossa mente. São situações e emoções que você esqueceu porque ficaram armazenadas na memória profunda, no inconsciente. Eu, como terapeuta hipnótico, consigo induzi-lo a trazer de volta essas lembranças, revê-las, para ajudá-lo a entender o que se passa hoje”, conta Verea.
Mas não é apenas em lembranças que a hipnoterapia se baseia. O médico pode, durante o transe, trabalhar apenas em oferecer sugestões de comportamento, posturas e ideias ao paciente, para que ele modifique aspectos de sua vida, mais ou menos como fazem os psicólogos. A diferença é que a sugestão é muito mais facilmente aceita e com bem menos resistência durante a hipnose devido ao senso crítico diminuído.
Verea lembra que, em todos os casos, para que o tratamento seja eficaz é preciso fugir da passividade e entender que o terapeuta sozinho não resolverá seus problemas. “Muitos acham que vão ser hipnotizados e vão mudar completamente. Aí se desiludem, pois percebem que terão de ser proativos. Não existe mágica, milagre”, fala.
Regressão
Durante as sessões, o paciente pode não apenas se lembrar, mas também reviver uma história do passado como se ela estivesse acontecendo de novo. É o fenômeno chamado de regressão, e que causa tanto medo em algumas pessoas. Ao entrar nessas lembranças espontaneamente ou por solicitação do terapeuta, o paciente pode passar a se comportar como se tivesse a idade que tinha à época.
“Ela revê a história como se estivesse acontecendo hoje. Pode se envolver tanto a ponto de escrever, falar como se tivesse a idade em questão. Há pessoas que revivem situações de quando eram bebês, então, não falam, só gesticulam”, revela Verea.
A aplicação da regressão tem as mais variadas funções. “Se você teve um trauma na infância, posso fazê-lo voltar a ele, lidar com as emoções no momento do trauma, já que o estará revivendo, e mudar o que sentiu”, continua o médico da Unifesp.
Assim como é possível regredir, o terapeuta também pode sugerir uma progressão da idade, pedindo ao paciente que se veja no futuro desejado e tente entender o que deve fazer para atingir seus objetivos.
O tratamento pode ser feito em qualquer situação que possa ter algum fundo emocional. São problemas como anorexia, bulimia, insônia, insegurança, timidez, baixa autoestima, impotência e outros problemas sexuais, ansiedade, depressão e síndromes, como a do pânico.  É eficaz também no combate a alguns vícios, como o tabagismo e o alcoolismo.
A duração da hipnoterapia varia de pessoa para pessoa, mas, em geral, o indicado é pelo menos uma sessão semanal, com duração de uma hora, por cerca de três meses.
Medo infundado
Para quem tem certo receio da hipnose, os especialistas contam que tudo acontece naturalmente durante a sessão, como em uma terapia comum. Por meio da conversa, o médico conduz o paciente a um estado de vigília e relaxamento profundo, captando a sua atenção e inibindo a ação do consciente.
Em seguida, apenas com o uso da voz em um tom monótono e rítmico, ele o induz a entrar no transe. Durante a hipnose, o paciente pode perder a noção do tempo e de passado e presente.
O despertar é iniciado com uma ordem de que, ao contar progressivamente até um determinado número, a pessoa vai acordar.
E para quem tem medo de não voltar do transe hipnótico, os especialistas são categóricos ao afirmar que isso não passa de um mito. O que pode acontecer, em alguns casos, é o paciente mergulhar tão fundo em uma determinada lembrança e não aceitar a sugestão de sair do transe. Nestes casos, o terapeuta o deixa por algum tempo neste estado, que naturalmente o processo hipnótico se transforma em sono de verdade e ele acorda.
 Estresse sob Controle
A hipnose também tem sido usada com grande eficácia em pacientes estressados e tem ajudado pessoas em situações de ansiedade e apreensão a se sentirem mais relaxadas, como antes de cirurgias
Segundo Verea, os terapeutas trabalham em cima de duas variáveis nestes casos: aumentar o nível de tolerância do paciente para fazer com que suporte mais tensões sem se abalar ou procurando descobrir a origem do problema para ajudá-lo a diminuir o nível do estresse
“Na hipnose consigo dar sugestões para que ele altere essas posturas. Se forem bem colocadas, ele consegue modificar a forma de viver as situações”, conta.
Para essas aplicações, a auto-hipnose também tem sido bastante efetiva. Essa técnica permite gerenciar, por meio da autossugestão, juntamente com técnicas de relaxamento e meditação, o estresse a ansiedade.
Possibilita, ainda, diminuir dores como as da cólica menstrual e de cabeça.
 História da Hipnose
Apesar da origem incerta, acredita-se que a hipnose exista desde o Egito antigo. Naquela época, a prática ocorria nos chamados templos do sono, onde os atendidos entravam em um estado chamado de “sono mágico” e do qual supostamente acordariam curados de seus males físicos
O ritual era cercado de cantos e danças conduzidos por sacerdotes. Maias, astecas, persas e gregos tinham práticas semelhantes
O emprego da hipnose na medicina começou com Anton Mesmer, no século 18. Para ele, a doença era criada por uma sugestão do organismo e podia ser solucionada com a transmissão de ondas magnéticas de uma pessoa para outra
Em suas sessões, ele usava imãs e outros objetos para colocar o paciente em um suposto estado de sono que levaria à cura. Até então, a prática era chamada de mesmerismo.
O termo hipnotismo foi cunhado pelo cirurgião e oftalmologista escocês James Braid, no século 19, ao utilizar a palavra ‘hypnos’, que em grego significa sono, para definir o estado em que a pessoa entrava
Braid rejeitou a existência de fluídos magnéticos e acreditava que era o cansaço dos músculos dos olhos ao se fixarem em um único ponto o que levava a pessoa ao estado de transe.
A hipnose conhecida hoje foi desenvolvida pelo psiquiatra Milton Erickson, fundador da Sociedade Americana de Hipnose Clínica, no século 20. Foi ele quem criou algumas das técnicas modernas de indução, que usam apenas a voz.

Hipnose na Fisioterapia

16 de junho de 2013


Devido à necessidade atual de integrar conhecimentos e tratar o paciente em suas diversas dimensões (sensorial, afetiva, motivacional, cognitiva e comportamental), o COFFITO regulamentou a prática da Hipnose como um recurso adicional no ambiente fisioterapêutico (Resolução COFFITO N.380, 2010).

Como seria se o fisioterapeuta pudesse fazer o procedimento de aspiração em um paciente com traqueostomia sem o medo e desconforto do paciente?
Sabemos que é necessário auxiliar o movimento em pessoas pós-queimadura para evitar aderências. A dor é um dos sintomas comuns que impedem que o fisioterapeuta utilize recursos cinesioterápicos nesses pacientes. Como seria se o fisioterapeuta pudesse ter um recurso para reduzir ou eliminar a dor do paciente para fazer os exercícios?

O uso de recursos eletro-termo-fototerápicos é comum entre os fisioterapeutas. Sabemos que esses recursos alteram somente alguns aspectos para modular a dor de um paciente. Como seria se o fisioterapeuta tivesse outros recursos para serem usados ao mesmo tempo capazes de modular outros níveis do sistema nervoso?
Existem evidencias que a expectativa do paciente e a credibilidade que o tratamento passa ao paciente são fatores chaves para o resultado dos recursos utilizados. Como seria se o fisioterapeuta pudesse aumentar a expectativa e a credibilidade ao tratamento através de uma comunicação efetiva?
Sabemos que um paciente, que não anda há muito tempo por conta de uma lesão neurológica ou lesão atlética, por exemplo, deve se recuperar pelo menos parcialmente para retornar gradativamente às suas tarefas. Como seria se ele pudesse retornar às suas tarefas mesmo ainda com dor e sem conseguir se mover (sem desconforto e sem risco de piora)?
Como seria se o fisioterapeuta pudesse potencializar qualquer recurso, somente combinando um único recurso adicional?

O COFFITO define Fisioterapia como uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica, biofísica, biomecânica, cinesia, da sinergia funcional, e da cinesia patológica de órgãos e sistemas do corpo humano. Fundamenta suas ações também em mecanismos terapêuticos sistematizados pelos estudos das disciplinas comportamentais e sociais.
Devido á necessidade atual de integrar conhecimentos e tratar o paciente em suas diversas dimensões (sensorial, afetiva, motivacional, cognitiva e comportamental), o COFFITO regulamentou a prática da Hipnose como um recurso adicional no ambiente fisioterápico (Resolução COFFITO N.380, 2010).

Muitas evidencias à favor da hipnose estão surgindo após o desenvolvimento de exames de imagens. A área da hipnose mais bem estudada está relacionada ao manejo da dor. A necessidade de abordar os aspectos biopsicossociais na dor 1 está direcionando a atenção da comunidade científica para a hipnose. Já foi evidenciado que a hipnose pode exercer influências em diferentes locais do sistema nervoso relacionados à dor 2,3, existem ensaios clínicos confiáveis que demonstram a eficácia do treinamento de auto-hipnose para o manejo da dor crônica 4,5,6 e há um entendimento cada vez maior sobre pacientes com dor crônica e como a hipnose pode ser utilizada nesse contexto.
Onde fazer a capacitação: IEES Cursos: Curso de Formação em Hipnose
Resolução do COFFITO: http://goo.gl/As3sYz

REFERÊNCIAS:
1- Melzeck R. From the gate to the neuromatrix. Pain 1999; 6; S121 – S126
2- Derbyshire SW, Whalley MG, Stenger VA, Oakley DA. Cerebral activation during hypnotically induced and imagined pain. NeuroImage 2004;23:392–401.
3- Derbyshire SW, Whalley MG, Oakley DA. Fibromyalgia pain and its modulation by hypnotic and non-hypnotic suggestion: an fMRI analysis. Eur J Pain 2009;13:542–50.
4- Jensen MP, Barber J, Romano JM, Hanley MA, Raichle KA, Molton IR, Engel JM, Osborne TL, Stoelb BL, Cardenas DD, Patterson DR. Effects of self-hypnosis training and EMG biofeedback relaxation training on chronic pain in persons with spinal cord injury. Int J Clin Exp Hypn 2009;57:239–68.
5- Jensen MP, Barber J, Hanley MA, Engel JM, Romano JM, Cardenas DD, Kraft GH, Hoffman AJ, Patterson DR. Long-term outcome of hypnotic-analgesia treatment for chronic pain in persons with disabilities. Int J Clin Exp Hypn 2008;56:156–69.
6- Jensen M. The neurophysiology of pain perception and hypnotic analgesia: implications for clinical practice. Am J Clin Hypn. 2008, 51 (2): 123- 148
REFERÊNCIAS:
1- Melzeck R. From the gate to the neuromatrix. Pain 1999; 6; S121 – S126
2- Derbyshire SW, Whalley MG, Stenger VA, Oakley DA. Cerebral activation during hypnotically induced and imagined pain. NeuroImage 2004;23:392–401.
3- Derbyshire SW, Whalley MG, Oakley DA. Fibromyalgia pain and its modulation by hypnotic and non-hypnotic suggestion: an fMRI analysis. Eur J Pain 2009;13:542–50.
4- Jensen MP, Barber J, Romano JM, Hanley MA, Raichle KA, Molton IR, Engel JM, Osborne TL, Stoelb BL, Cardenas DD, Patterson DR. Effects of self-hypnosis training and EMG biofeedback relaxation training on chronic pain in persons with spinal cord injury. Int J Clin Exp Hypn 2009;57:239–68.
5- Jensen MP, Barber J, Hanley MA, Engel JM, Romano JM, Cardenas DD, Kraft GH, Hoffman AJ, Patterson DR. Long-term outcome of hypnotic-analgesia treatment for chronic pain in persons with disabilities. Int J Clin Exp Hypn 2008;56:156–69.
6- Jensen M. The neurophysiology of pain perception and hypnotic analgesia: implications for clinical practice. Am J Clin Hypn. 2008, 51 (2): 123- 148

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