Várias
são as definições da Ergonomia. Alguns autores a classificam como Ciência,
outros como Tecnologia. Alguns destacam os aspectos sistemáticos e
comunicacionais, enquanto outros focalizam a questão da adaptação da máquina ao
homem.
Cabe,
portanto, exemplificar estas diferentes concepções.
1 - IV Congresso Internacional de Ergonomia, 1969.
"A
Ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos
e espaço de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a contribuição de
diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que,
dentro de uma perspectiva de aplicação, deve resultar numa melhor adaptação ao
homem dos meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho e de vida."
2 - FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro, Nova Fronteira, 1986. 2a. ed. rev.
"Conjunto
de estudos que visam à organização metódica do trabalho em função do fim
proposto e das relações entre o homem e a máquina."
3 - BURGER,
G.C.; JONG, J.R. Aspects of ergonomics jobs analysis. Ergonomics 5 (1962) 1:185-201.
"Aplicação
de conhecimentos biológicos no campo da anatomia, fisiologia, psicologia
experimental e medicina preventiva, com o propósito de alcançar uma otimização
do sistema homem-máquina, no qual um balanceamento apropriado é mantido entre a
carga externa de trabalho e capacidade de trabalho considerando o uso possível
que é feito das capacidades e energia dos trabalhadores, no interesse de sua
própria saúde (e dignidade) e no interesse da produtividade."
4 - CAZAMIAN,
Pierre (1974). In: SPERANDIO, Jean Claude. La psychologie en ergonomie. Paris, PUF,
1980.
"Estudo
multidisciplinar do trabalho humano que tenta descobrir as leis para melhor
formular as regras. A Ergonomia é, portanto, conhecimento e ação; o
conhecimento é científico e se esforça por superar os modelos e explicativos
gerais; a ação visa melhor adaptar o trabalho aos trabalhadores de modo a lhes
proporcionar bem-estar e satisifação; ela pode, ou não, ter como efeito
secundário um aumento do rendimento."
5 - CAZAMIAN,
Pierre. Leçona d'ergonomie industrielle: une approche global. Paris, Editiona
Cujas, 1974.
"
A ergonomia é o estudo científico do trabalho humano alienada, porque só este
coloca problemas específicos para o ergonomista resolver. O trabalho como livre
expressão de uma personalidade criadora, é uma atividade tão velha e
espontaneamente gratificante quanto a dança e as artes plásticas. A alienação
começa quando a obra de uma pessoa passa a ser dividida entre várias outras
pessoas, onde uma das quais assume o papel de comandar as outras. Como
hierarquização suprime a comunicação, o chefe não conhece nunca as necessidades
daqueles que dirige. A alienação se completa quando a direção adota objetivos
contrários aos da execução, como por exemplo, os econômicos.
A
alienação é, no primeiro caso, uma questão de ignorância (alienação primária);
no segundo, de cálculo (alienação secundária).
(...)
A Ergonomia tem ou sobretudo pode ter, uma dupla função. Ela é, primeiramente,
e sempre, um conhecimento, uma descrição explicativa, dos componentes humanos
de um sistema coletivo de produção - um diagnóstico.
Mas,
num segundo momento, é natural que ao diagnóstico siga-se um tratamento.
Neste
ponto, faz-se necessário distinguir entre os dois tipos de alienação. O
conhecimento é, em si mesmo, atuante e reformador. Assim, nos casos de
alienação primária, uma melhor compreensão entre os participantes é suficiente
para reduzir a inadaptação -esta é a "ergonomia da comunicação".
(...) Mas, quando a alienação é de tipo secundário, quando se deve aos
objetivos da direcão na busca do aumento da produção e do lucro, a análise
ergonómica fica desprovida de sanções práticas, enquanto permanecer o atual
estado de normas da nossa sociedade."
6 - CHAPANIS,
Alphonse. A Engenharia e o Relacionamento Homem-Máquina. São Paulo, Atlas,
1972.
"A
engenharia especializada em fatores humanos, ou engenharia humana, preocupa-se
com as maneiras de idealizar máquinas, operações e ambientes de trabalho, de
modo que todos os elementos se aliem, se combinem, com as limitações da
natureza humana."
7 - GRANDJEAN,
Etienne. Fitting the task to the man. London, Taylor l Francia, 1980.
"Ergonomia
é o estudo do comportamento do homem em relação ao seu trabalho. O objeto desta
pesquisa é o homem no trabalho em relação com o seu ambiente especial. A
pesquisa ergonômica é usada na adaptação das condições de trabalho à natureza
física e psicológica do homem, e isto resulta no mais importante princípio de
ergonomia - adaptar a tarefa ao homem."
8 - LAVILLE.
Antoine. Ergonomia. São Paulo, EPU/EDUSP, 1977.
"Conjunto
de conhecimentos a respeito do desempenho do homem em atividade, a fim de
aplicá-los à concepção de tarefas, dos instrumentos, das máquinas e dos sistemas
de produção. A ergonomia nasceu de necessidades práticas; ligado à prática, já
que, sem aplicação, perde a razão de ser, ela se apoia em dados sistemáticos,
utilizando métodos científicos."
LAVILLE,
Antoine. L'ergonomie. Paris, Presses Universitaires de France, 1986, 3e. éd.
cor.
"A
Ergonomia é uma disciplina científica: seu objeto de pesquisa é o funcionamento
do homem em atividade profissional; ela tem um lugar especifico em relação a
fisiologia e a psicologia por duas razões principais: por um lado ela estuda o
funcionamento do homem dentro das condições constrangedoras dos meios de
trabalho, de duração, de ambiente e de objetivos a respeitar (o sistema de
produção cria situações não habituais: trabalhar oito horas por dia, num mesmo
ritmo, imposto por uma máquina, uma esteira, trabalhar a noite, ou em equipes
alternantes, o que se opõe aos ritmos biológicos); por outro lado a atividade
profissional é sempre uma atividade complexa que não pode ser reduzida tão
somente a adição de atividades físicas, sensoriais e mentais; ora, a fisiologia
e s. psicologia são duas ciências distintas, que se fundamentam principalmente
sobre os resultados de experimentos de laboratório, portanto artificiais, elas
não podem apreender o funcionamento global do homem em situação de trabalho. A
ergonomia desenvolve pesquisas específicas e criou um conjunto de métodos, uns
que tomou por empréstimo a outras disciplinas, outros que lhe são próprios.
A
ergonomia é uma disciplina técnica porque ela tem como objeto buscar conhecimentos
e os organizar para aplicá-los à concepção de meios de trabalho a partir de
critérios de saúde, de desenvolvimento das capacidades dos trabalhadores e de
produção. Esta aplicação exige arte, como a arte do engenheiro ou do médico,
porque trata-se de empregar um conjunto de conhecimentos técnicos e práticos a
situações particulares. Se a ergonomia desenvolve conhecimentos específico, ela
no entanto lança mão de conhecimentos de outras disciplinas científicas.
A
psicologia e a fisiologia são as duas principais ciências sobre as quais ela se
fundamenta e sobre as quais ela continua particularmente a se construir. Mas o
funcionamento do homem no trabalho é de uma grande complexidade e a ergonomia
ampliou progressivamente o campo de suas bases científicas: deste modo ela
apela para os conhecimentos de setores diferentes como a antropologia e a
sociologia para estabelecer suas regras de aplicação. Há, por outro lado, um
risco importante: por falta de limite, esta disciplina será levada a
desaparecer. No entanto, se a ergonomia mantém seu objetivo principal, ou seja
a concepção de situações e de utensílios de trabalho, de acordo com o
funcionamento do homem, ela é então facilmente identificável."
9 - LEPLAT,
Jacques. La psychologie ergonomique. Paris, Pressea Universitaires de France,
1980.
"Para
certos especialistas (por exemplo, Edholm), a ergonomia é a ciência do
trabalho, ou o conjunto das ciências do trabalho (fisiologia, psicologia,
sociologia do trabalho). Para outros, entre os quais nos colocamos (...) a
ergonomia é uma tecnologia cujo objeto é o arranjo dos sistemas homens-máquina,
ou mais amplamente das condições de trabalho, em função de critérios dos quais
os mais importantes caracterizam o bem-estar dos trabalhadores (saúde,
segurança, satisfação, conforto, etc). Dentro da primeira concepção, faz
sentido falar de ergonomia aplicada, mas não no segundo caso, onde a ergonomia
é por natureza aplicada."
10 - McCORMICK,
Ernest J. Ergonomia. Barcelona, Gustavo Gili, 1980.
"Colocaremos
a definição de fatores humanos em três etapas:
- o
foco central dos fatores humanos refere-se a consideração dos seres humanos no
projeto dos objetos produzidos pelo homem, dos meios de trabalho e dos entornos
produzidos pelo mesmo homem que são
"usados" nas diferentes
atividades vitais;
-
os objetivos dos fatores humanos no projeto destes objetos, meios de trabalho e
entornos produzidos pelo homem tem duas etapas que são: 1) aumentar a eficácia
funcional para que as pessoas possam utilizá-los; 2) manter ou acrescentar
certos valores humanos desejados no processo (por exemplo, saúde, segurança e
satisfação). Este segundo objetivo é essencialmente um dos que procuram o
bem-estar humano.
- o
enfoque central dos fatores humanos consiste na aplicação sistemática de
informações referentes as características humanas e ao 'seu comportamento, no
que se refere ao projeto de objetos feitos pelo homem, aos meios de trabalho e
aos entornos que as pessoas utilizam. Em resumo, pode-se considerar o processo
de projeto para uso humano co»o a parte «ais importante dos fatores humanos.
Além da ênfase em projetar as 'coisas" que usam, a disciplina favores
humanos também abarca certas funções relacionadas (quando se referem ao
material ou serviço em questão), tais como métodos operacionais e
procedimentos; comprovação e avaliação destes artigos no que se refere aos seus
aspectos de fatores humanos, criação de ajudas para o trabalho e materiais de
treinamento; e a seleção e o treinamento do pessoal implicado no uso de tais
artigos. Mais ainda, em geral considera-se que a disciplina fatores humanos
abarca a investigação de apoio que define itens para o projeto e para os
processos que se relacionam com ele."
11 - MEISTER,
David e RABIDEAU, Gerald. Human factors evaluation in system
development. New
York, John Wiley, 1965.
"São
variáveis envolvidas pelas: (1) características (capacidades e limitações) do
homem; (2) características (aspectos do projeto) de máquinas individuais ou
sistemas de máquinas; (3) relações entre ambas. A prática da Ergonomia é a
aplicação destas variáveis ao projeto e avaliação do sistema homem-máquina.
Esta prática pode envolver qualquer um ou todos dentre os itens que se seguem:
a)
análise funcional dos requisitos do sistema;
b)
o desenvolvimento de critérios de seleção e treinamento de pessoal;
c)
o projeto e avaliação de controles operados manualmente e dos equipamentos de
proteção individual da equipe;
d)
o estudo de fatores ambientais que afetam o desempenho humano;
e)
participação em testes de desempenho de sistemas;
f)
supervisão de qualidade de produção e pesquisa aplicada.
O
propósito de aplicar estas variáveis é melhorar a performance do homem na
operação e manutenção das máquinas, de modo que os resultados da operação do
sistema satisfaçam os requisitos de desempenho espec i f i cados."
12 - MONTMOLLIN,
Maurice de. Introducciòn a Ia Ergonomia. Madrid, Juhn Wiley, 1965.
"Tecnologia
das comunicações nos sistemas homens-máquinas".
13 - MONTMOLLIN,
Maurice de. L'ergonomie. Paris, Editions La Découverte, 1986.
"Ergonomia
vem do grego ergon (trabalho) e nomos (lei, regras). A definição desta
disciplina poderia ser simplesmente ciência do trabalho. Uma ciência que não
consideraria as fronteiras convencionais impostas pelas práticas das direções
da empresa, que o discurso dos especialistas repete. O engenheiro que concebe
as máquinas, o organizador que reparte as funções, o gerente de métodos que
fixa os tempos e movimentos, o médico do trabalho preocupado com a higiene, o
responsável pela segurança que só pensa em acidentes e os controladores da
qualidade obcecados pela fiabilidade humana, o diretor de pessoal que recruta e
negocia as remunerações, o pedagogo encarregado de ensinar as técnicas, o
sindicalista que se bate contra irregularidades... Todos se ocupa» do trabalho
e dos trabalhadores, mas seus enfoques são parciais, e talvez contraditórios: a
segurança pode se opor a produtividade, uma organização muito restritiva pode
frear as iniciativas, e as qualificações contradizem as competências... Uma
ciência do trabalho digna deste nome deveria ultrapassar essas contradições.
Nesta
perspectiva hegemónica, a ergonomia deveria superar as oposições académicas
entre as diferentes disciplinas científicas que hoje fazem do trabalho e do
trabalhador seu objeto de estudo: anatomia, fisiologia, toxicologia,
psicologia, psicossociologia, linguística, sociologia, etologia, economia,
gestão... A unidade do seu objeto - o trabalhador está inteiro no seu trabalho,
não em pedaços - permitiria a ergonomia se constituir em ciência unitária, superar
e sintetizar enfoques muito parciais para serem verdadeiramente eficazes.
Trata-se de um sonho, e mesmo de um delírio paranóico. A unidade da ergonomia
não se constrói pelas anexações. O princípio de sua coerência - através de suas
mutações e de suas contradições - deve-se menos ao seu objeto, o trabalho
humano, e mais a sua vontade de estudar eate objeto cientificamente. Ou seja,
não se propor nada que se baseie sobre as opiniões pessoais, as tradições ou as
ideologias. Atitude inabitual no mundo do trabalho, principalmente como podem
testemunhar os sociólogos e os economistas. Buscar ser científico em ergonomia
não é buscar constituir-se numa impossível ciência homogénea; objetivo
inacessível, porque o trabalho e os trabalhadores são a imagem da sociedade e
do homem: muito mais complexos e diversos para gerar um enfoque unitário
harmonioso. No entanto esta não é uma razão para renunciar ao emprego de
modelos, talvez de teorias, e de métodos (sobretudo de métodos) coerentes,
estruturados, verificáveis e refutáveis; em uma palavra: racionais."
14 - MURREL,
K.F.H. Ergonómica. London, Chapman s. Hall, 1965.
"Estudo
científico da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho. Neste sentido o
termo ambiente não se refere apenas ao entorno ambiental, no qual o homem
trabalha, mas também às suas ferramentas, seus métodos
de trabalho e à organização deste, considerando-se este homem, tanto como um
indivíduo quanto como participante de um grupo de trabalho. Finalmente, tudo
isto se relaciona com a natureza do próprio homem, com suas habilidades,
capacidades e limitações. Na periferia da Ergonomia, sem no entanto até o
presente momento, fazer parte do seu campo, estão as relações do homem com seus
companheiros de trabalho, seus supervisores, gerente e sua família. Estes
pontos são usualmente considerados como parte das ciências sociais, mas eles
não devem ser ignorados, já que podem desempenhar um importante papel na
solução de alguns problemas de Ergonomia."
15 - OBORNE,
David J. Ergonomics at work. New York, John Wiley L Sons, 1982.
"(...)
ela atravessa as fronteiras entre muitas disciplinas científicas e
profissionais e se baseia em dados, achados, e princípios de cada uma delas.
Atualmente a ergonomia é um amálgama de fisiologia, anatomia e medicina por um
lado; psicofisiologia, psicologia experimental, por outro lado; física,
engenharia, como um terceiro aspecto. As ciências biológicas fornecem
informações sobre a estrutura do corpo: as capacidades e limitações físicas do
operador; as dimensões do seu corpo; o peso que ele pode levantar; as pressões
físicas que ele pode suportar. A psicofisiologia lida com o funcionamento do
cérebro e com o sistema nervoso como determinantes do comportamento; enquanto
os psicólogos experimentais tentam entender as maneiras básicas pelas quais os
indivíduos agem, percebem, aprendem, lembram, controlam seu processo motor,
etc. Finalmente, físicos e engenheiros fornecem informações similares a
respeito das máquinas e do ambiente ao qual o operador se opõe.
A
partir dessas áreas um ergonomista toma e integra dados para maximizar a segurança
do operador, eficiência e confiabilidade do desempenho, para fazer sua tarefa
mais fácil de aprender e para aumentar suas sensações de conforto.
Esses
critérios não são de forma alguma independentes. Por exemplo, a eficiência do
operador é altamente dependente de sua precisão, mas a precisão não é o ünico
componente da eficiência - incluem-se confiabllidade, velocidade e a redução do
esforço e da fadiga. Do mesmo modo, a ergonomia visa aumentar a segurança. Em
troca isto deveria resultar numa redução do tempo perdido em função de doenças
e (talvez) um aumento correspondente na eficiência (trabalhador). Da mesma
maneira, contudo, a segurança dependerá da eficiência. (...) Um outro objetivo
da ergonomia é tentar reduzir a imprevisibilidade do desempenho do operador, em
outras palavras, aumentar sua confiabilidade. Assim o operador humano deve não
somente ser rápido e eficiente, mas também confiavel. De novo, embora a
confiabllidade se relacione com a precisão, elas também são independentes. Um
operador deve desempenhar sua tarefa com precisão na maior parte do tempo mas
por causa de alguma ação intermitente da situação de trabalho pode diminuir a
confiabllidade na sua precisão.
(...)
Assim, ub sistema que foi
projetado para produzir uma série de tarefas que são mais fáceis de aprender
reduzirá os custos e tempo de treinamento e deve produzir menos erro sob stress. O aspecto final,
conforto, é um critério subjetivo que se torna cada vez mais importante nas
situações atuais e se refere a uma sensação de bem-estar e facilidade induzida
pelo sistema. (...)
Em
resumo, conseqüentemente a tarefa do ergonomlsta é primeiramente determinar as
capacidades do operador, e então tentar construir um sistema de trabalho em
torno dessas capacidades. Em relação a isto a ergonomia é frequentemente citada
como a ciêr.cia de 'adaptar o ambiente ao homem'."
16 - PHEASANT,
stephen. Bodyspace: anthropometry, ergonomics and design. London. Taylor & Francis, 1986.
"Se
você procurar a palavra 'ergonomia' num dicionário, você deve encontrá-la
definida como 'o estudo científico dos seres humanos em relação aos seus
ambientes de trabalho'. Esta definição tradicional serve muito bem desde que se considerem seus
elementos num sentido suficientemente amplo. O conceito de trabalho deve
incluir um limite amplo de comportamento humano - não somente nas tarefas
desempenhadas no contexto ocupacional, mas também atividades domésticas e de
lazer. Similarmente, nosso estudo do ambiente de trabalho deve compreender não
somente o ambiente físico e os objetoa dentro dele (tais como máquinas, mobiliário,
ferramentas, etc) mas também
fatores psicológicos como a carga mental de trabalho, o fluxo de informações e
interações sociais com outros seres humanos. Uma consideração das múltiplas
trocas entre o homem e o ambiente nos leva a pensar em termos de sistemas
homem-máquina ou, nina escala mais ampla em sistemas sácio-técnicos (...).
A
razão mais óbvia para estudar as relações entre seres humanos e artefatos e ambientes
que eles usam (além da simples curiosidade) é a intenção de mudar as coisas
para melhor - seja para incrementar o desempenho, produtividade, satide ou
segurança do usuário, ou simplesmente para tornar a experiência do usuário mais
prazeirosa e satisfatória. Deve-se observar isto por razões altruísticas, ou
mais provavelmente porque isto é certo comercialmente. No contexto ocupacional,
podemos escolher chamar isto 'adaptar o trabalho ao homem* e talvez comparar
isso com 'adaptar o homem ao trabalho' (pela seleção, treinamento, orientação
vocacional, etc). Os dois enfoques são vistos comumente como mutuamente
interdependentes.
A
maioria dos ergonomistas hoje em dia se coloca como tecnólogos ou engenheiros
em vez de cientistas. Para colocar a distinção claramente, o cientista estuda
coisas ou analisa-as, um engenheiro faz coisas ou determina que elas sejam
feitas e o tecnólogo é alguma coisa de ambos. Na verdade, uma disciplina
indistingüível da ergonomia desenvolveu-se nos Estados Unidos sob o nome de 'Human
Factors Engineering', 'Human Engineering' ou 'Human Factors'. (...)
Inerente
ao processo de 'mudar as coisas para melhor' é o conceito de projeto - seja o
projeto de um objeto físico, um método de trabalho, um ambiente ou um sistema.
Assim para os nossos propósitos presentes propõe-se a seguinte definição:
Ergonomia
é a aplicação de informações científicas sobre os seres humanos (e métodos
científicos para obter tais informações) aos problemas de projeto."
17 - RËGNIER,
Jacques. L'amélioration des Conditions de Travail dans l'industrie. Paris. Masson, 1980.
"A
Ergonomia considera as características, capacidades e limitações anatómicas,
fisiológicas, psicológicas do homem para a concepção e arranjo dos equipamentos
(instalações, máquinas, mecanismos, utensílios, equipamentos de projeção
individual, etc) , do ambiente de trabalho (ambiëncia sonora, luminosa,
térmica, etc), do próprio trabalho (processos operacionais, carga de trabalho,
ritmo de trabalho), a fim de reduzir og custos humanos do trabalho, visando
manter ou aumentar a confiabilidade, a eficiência dos sistemas
homem(ns)-máquina(s). As características, capacidades e limites anatómicos do
homem se relacionam com suas dimensões corporais (antropometria) e seus dados
biomecânicos (deslocamento das diversas partes do corpo, voluntários ou
forçados). Aquelas considerações que são denominadas fisiológicas referem-se
principalmente aos sistemas sensorial, nervoso, respiratório, cardio-vascular e
motor. Aquelas considerações que são denominadas psicológicas se reportam às
funçSes cognitivas e intelectuais -percepção, memória, tratamento da
informação, resolução de problema, tomada de decisão, processos psico-motores -
que se relacionam com a psicologia experimental, às quais é conveniente juntar
as atitudes e modificações do trabalhador, aspectos que a Ergonomia não pode
negligenciar ao nível das aplicações na empresa."
18 - SANDERS,
Mark S.; McCormick, Ernest J. Human Factors Engineering and Design. New York,
McGraw-Hill, 1987. 6th. ed.
"Os
fatores humanos focalizam os seres humanos e suas interações com produtos,
equipamentos, auxílios, procedimentos e ambientes usados no trabalho e na vida
diária. A ênfase é no ser humano (em oposição a engenharia, onde a ênfase
localiza-se mais nas considerações estritamente técnicas de engenharia) e como
o projetci das coisas influencia as pessoas. Fatores humanos, então,
busca j mudar as coisas que as pessoas usam e os ambientes nos
quais elas usam essas coisas para adequá-las melhor as capacidades, limitaçõej
e necessidades das pessoas.
Os
fatores humanos têm dois objetivos principais. O primeiro é incrementar a
efetividade e eficiência com as quais o trabalho e outras atividades são
conduzidos. Incluem-se aqui coisas como a compatibilização no uso, a redução de
erros e o aumento da produtividade. O segundo objetivo é incrementar certos
valores humanos desejáveis, como aumento da segurança, redução da fadiga e dós stress, aumento do conforto,
aceitação do usuário, satisfação no trabalho e melhoria da qualidade de vida.
Pode parecer demais alcançar todos esses objetivos, mas como Chapanis assinala
duas coisas nos ajudam. Primeiro somente um subconjunto dos objetivos 4 geralmente
de maior importância numa aplicação específica. Segundo os objetivos são
usualmente correlacionados. Por exemplo, uma máquina ou produto que resulta da
tecnologia dos fatores humanos não é somente mais segura, mas é também mais
fácil de usar, e conseqüentemente provoca menos fadiga e satisfaz mais ao
usuário.
O
enfoque dos fatores humanos é a aplicação sistemática de informações relevantes
sobre as capacidades, limitações, características, comportamento e motivação
humanos, ao projeto de coisas e procedimentos de uso e aos ambientes nos quais
as pessoas os usam. Isto envolve investigações científicas para descobrir
informações relevantes sobre o homem e suas reações as coisas, ambientes, etc.
Essas informações servem de base pára as recomendações projetuais e para
predizer os prováveis efeitos das várias alternativas de projeto. O enfoque dos
fatores humanos também envolve a avaliação das coisas que projetamos para
assegurar se elas satisfazem os objetivos pretendidos. Embora não exista uma
frase que possa caracterizar adequadamente o escopo do campo dos fatores
humanos, expressões como projetar para o usuário humano e otimizar condições de
trabalho e de vida dão uma impressão parcial do que os fatores humanos tratam.
Para aqueles que desejam uma definição concisa dos fatores humanos que combine
os elementos essenciais de foco, objetivos e enfoque que acabamos de expor,
apresentamos a seguinte definição de Chapanis (1985), ligeiramente modificada:
fatores humanos descobre e aplica informações sobre comportamento, habilidades,
limitações e outras características humanas ao projeto de ferramentas, máquinas,
sistemas, tarefas, trabalhos e ambientes para uso humano produtivo, seguro,
confortável e efetivo."
19 - SPERANDIO,
Jean-Claude. L'ergonomie du travail mental. Paris, Masson, 1983.
"A
ergonomia é uma disciplina científica um pouco particular. Ela se constitua de
várias disciplinas, mas exatamente por partes de disciplinas, que contribuem
para o conhecimento científico do homem no trabalho, sob os diversos aspectos
fisiológicos, psicológicos, sociológicos e médicos do trabalho humano. Este
conhecimento científico visa um objetivo prático que condiciona e justifica a própria
existência da ergonomia: a adaptação do trabalho ao homem. Não é suficiente
estudar o trabalho humano para que o estudo possa ser qualificado de
"ergonómico". Ë preciso que o objetivo do estudo seja explicitamente
a adaptação do trabalho às diversas características dos homens em questão, quer
dizer, o arranjo concreto dos utensílios, dos postos de trabalho e dos sistemas
homens-máquinas, do ambiente e da organização do trabalho, do mesmo modo que de
todos os recursos técnicos utilizados. Por esta razão, a ergonomia é tema para
engenheiros e tecnólogos, do mesmo modo que para os pesquisadores científicos;
ela coloca diretamente o conteúdo e as condições de trabalho de todos os
trabalhadores, qualquer que seja o trabalho, prioritariamente físico ou intelectual.
Os
critérios desta adaptação são importantes de considerar. Ë escusado dizer que a
ética da ergonomia exige que ao final as condições de trabalho, ou por
extensão, a atividade considerada pela intervenção ergonómica sejam melhoradas
e não pioradas. Mas pode-se melhorar segundo critérios diferentes: aumento de
desempenho, em termos de rendimento ou eficácia, eliminação da carga de
trabalho, diminuição ou supressão dos constrangimentos, aumento da segurança,
aumento do interesse intrínseco da tarefa, aumento da satisfação, etc. Não
existe um critério ergonómico privilegiado. Em geral, há uma pluralidade de
critérios que são frequentemente concorrentes. Não há em geral razão científica
para hierarquizar os critérios a considerar: sob este aspecto, a busca
participativa se impõe. Conseqüentemente, apesar da ergonomia se desenvolver
mais e mais como uma ciência significativa pode-se dizer que as intervenções
ergonómicas em campo podem ser muito diferentes uma das outras porque segundo
as situações, em função dos problemas encontrados, em função dos critérios
determinados, os aspectos do trabalho considerados pêlos ergonomistas são muito
diversos, como são igualmente diversas as especialidades científicas
diretamente implicadas. Com efeito, a pluridisciplinaridade não exclui de modo
algum uma divisão necessária era especialidades, mesmo se, quando em campo,
frequentemente as fronteiras se perpassem, as variáveis se interpenetrem e os
problemas concretos se apresentem simultaneamente conforme várias especialidades,
apesar dos recortes universitários tradicionais.
(...)
Em resumo, objetivar uma melhor adaptação do trabalho ao homem, é considerar
tanto quanto possível todos os aspectos do trabalho, fisiológicos,
psicológicos, incluindo os fatoreg sociais; os fatores objetivos e os fatores
subjetivos. Os critérios de otimização serão a satisfação dos operadores, seu
conforto, sua saúde, mas também a eficácia de seus comandos operatórios. Este
Ultimo critério ganha maior importância nas tarefas onde se requer um alto
nível de fiabilidade humana."
20 - TICHAUER,
E.R. The Biomechanical Basis of Ergonomics. New York, John Wiley, 1978.
"É
uma disciplina que pretende ajudar os membros individuais da força-de-trabalho
a produzirem a níveis economicamentes aceitáveis para o empregador, enquanto,
ao mesmo tempo, desfrutam de um alto padrão de bem-estar fisiológico e
emocional."
21 - WISNER,
Alain. Por Dentro do Trabalho; Ergonomia: Método e Técnica. São Paulo,
FTD/Oboré, 1987.
"É
o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a
concepção de ferramentas, máquinas e
dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e
eficácia. A prática ergonomica é uma arte (como se diz da arte médica e da arte
do engenheiro) que utiliza técnicas e se baseia em conhecimentos científicos.
Essa prática é caracterizada por uma Metodologia (...)
A
ergonomia se baseia essencialmente em conhecimentos no campo das ciências do
homem, antropometria, fisiologia, psicologia, uma pequena parte da sociologia,
mas constitue uma parte da arte do engenheiro, à medida que seu resultado se
traduz no dispositivo técnico. Por outro lado seu resultado é avaliado principalmente
por critérios que pertencem as ciècias do homem (saúde, sociologia, economia).
A
ergonomia constitue uma parte importante, mas não exclusiva, da melhoria das
condições de trabalho em seu sentido restrito. Além de considerações técnicas e
ergonómicas, é preciso considerar os dados sociológicos e psicossociológicos
que se traduzem no conteúdo e na organização geral da atividade de trabalho
(divisão do trabalho, divisão das tarefas, etc).
A
ergonomia não se limita ao trabalho, quer o consideremos em seu sentido
restrito, de trabalho produtivo e assalariado, quer no seu sentido mais amplo
de atividade obrigatória. A ergonomia é útil na concepção de brinquedos, de
esportes ou do vestuário."
22 - WOODSON,
Wesley; CONOVER, Donald W. Human engineering guide for equipment designers. Berkeley, University of Califórnia Press, 1966.
"Não
é considerada como uma ciência exata, e sim como uma filosofia ou uma maneira
de enfocar os problemas de projeto e de construção das coisas que se espera que
as pessoas usem - de modo que o usário seja mais eficiente e menos sujeito a
cometer erros ao usar estes artigos. Mas ainda: é um esforço para fazer com que
estes artigos sejam mais convenientes, mais confortáveis, menos perturbadores
e, finalmente, menos exasperantes ou menos fatigantes para o usuário. "
23 - ZÏNCHENKO,
v.; MUNÍPOV, v. Fundamentos de Ergonomia. Moscú, Editorial Progreso, 1985.
"A
ergonomia é uma disciplina científica que estuda integralmente o homem (ou o
grupo de homens) nas condições concretas de sua atividade relacionada com o
emprego das máquinas (meios técnicos). O homem, a máquina e o meio ambiente são
vistos na ergonomia como um todo complexo e funcional no qual o papel principal
corresponde ao homem. A ergonomia é uma disciplina científica e de projeto,
posto que sua tarefa é elaborar os métodos para considerar os fatores humanos
ao modernizar a técnica e a tecnologia existentes e criar outras nbvas, assim
como ao organizar as condições de trabalho (atividade) correspondentes".
Gostaria de testar o quanto a aplicação da ergonomia influencia no absenteísmo de uma indústria e na motivação dos funcionários. A ideia é avaliar duas empresas em suas áreas administrativas, uma que já aplica a ergonomia e a outra que não aplica. Assim gostaria de avaliar qual a diferença que a aplicação da ergonomia influencia na motivação e no absenteísmo de uma corporação, e verificar se existe algum outro fator mais impactante que faça com que o funcionário não tenha a motivação necessária e também relacionar aos índices de absenteísmo.
ResponderExcluirObjetivo:
Avaliar a influência da aplicação da ergonomia em escritórios nos índices de absenteísmo e motivação dos funcionários.
Serão avaliadas as seguintes hipóteses:
I. A aplicação da ergonomia nos escritórios reduz os índices de absenteísmo / afastamentos médicos dos funcionários;
II. A aplicação da ergonomia nos escritórios melhora os índices de motivação dos funcionários.
Idéia baseada na leitura das seguintes literaturas:
VARELLA, D. Lesões por esforços repetitivos – L.E.R./D.O.R.T.. Disponível em < http://drauziovarella.com.br/letras/l/l-e-r/ />. Acesso em 24/07/14
RIBEIRO, A. SILVA, D. MEDEIROS, D. A Influência da Ergonomia Organizacional na Motivação dos Funcionários da Área de Saúde – XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção – Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2005
Além da Norma Regulamentadora 17 (NR 17 - Ergonomia). A NR 17 é regida pela Portaria do Ministério do Trabalho nº 3.751, de 23 de novembro de 1990
**Esse Post faz parte de um trabalho de graduação para a UFABC.